Mais de 15 mil pessoas, segundo o organizadores, participaram na quarta-feira na procissão do Nazareno de São Paulo, que saiu da Basílica de Santa Teresa e encheu de roxo avenidas do centro de Caracas, dando mais vida a uma cidade que viu sair os seus habitantes para férias durante a Semana Santa.
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O acto religioso terminou com uma homilia do cardeal de Caracas, Jorge Urosa Savino, que insistiu nos alertas às autoridades sobre a falta de segurança que se regista no país e sem se referir concretamente ao Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, avançou que "Jesus não era socialista".
"A violência e a delinquência assassina é uma terrível praga que tem aumentado nos últimos anos, com o narcotráfico e o consumo de drogas. Não nos habituemos a ver as cifras de violência nos jornais como resultado de um jogo (...) Há que pedir às autoridades que cumpram com o sagrado dever de proteger a integridade de cada ser humano", afirmou.
Urosa Sabino manifestou a sua alegria por ver os milhares de pessoas "unidas pela mesma fé, independentemente das simpatias política e diferenças sociais" e pediu a intercessão de Deus "pelos presos comuns, pelos presos políticos e por uma reforma do sistema prisional".
"Há pessoas que promovem a ideia de que Jesus Cristo era um líder político, um líder socialista. Pois eu, com a Igreja toda, quero afirmar que Jesus Cristo não era um líder político, nem republicado, nem socialista, nem liberal, nem monárquico, nem nada disso", disse.
Na Venezuela, com frequência o presidente Hugo Chávez e os seus simpatizantes afirmam que Jesus Cristo era socialista.
O Nazareno de São Paulo é uma das figuras católicas que mais devotos tem na Venezuela. Consiste numa imagem de Jesus a caminho do Calvário, com uma túnica roxa bordada com fios de ouro, carregando uma cruz que anualmente é adornada com milhares de orquídeas roxas.
A escultura foi talhada em madeira de pinheiro em Sevilha, Espanha, e levada para Caracas, para a Capela de São Paulo Ermitão.
Contam os religiosos que, em 1597, uma epidemia de escorbuto afectou Caracas. Os fieis decidiram fazer uma procissão ao Nazareno de São Paulo para pedir-lhe que curasse os doentes. Nas proximidades da capela havia um limoeiro em que se enredou a coroa de espinhos da imagem e vários limões caíram ao chão. Foram apanhados e dados como tratamento aos doentes que rapidamente se curaram.
Em 1880, o anticlerical Presidente Antonio Guzmán Blanco mandou destruir a capela e construiu no mesmo lugar o Teatro Municipal. Segundo a lenda, um ano depois, quando procedia à sua inauguração, "viu" o Nazareno que lhe perguntou pela sua igreja.
Ao contar à mulher Ana Teresa Ibarra o que tinha acontecido, decidiram construir nas proximidades do Teatro Municipal a Basílica de Santa Teresa, onde se encontra actualmente a imagem do Nazareno de São Paulo.