A polícia marroquina utilizou canhões de água durante um protesto de professores que se dirigiam para o palácio real, e agrediu manifestantes no decurso de diversas concentrações na capital, Rabat.
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Diversas manifestações decorreram esta quarta-feira na cidade, assinalando os oito anos do início dos protestos da Primavera árabe em Marrocos e que fizeram regressar o ativismo político e social ao reino do Magrebe, refere a agência noticiosa Associated Press (AP).
O sindicato dos professores organizou um protesto frente ao Ministério da Educação e de seguida tentaram marchar em direção ao palácio real, nos arredores de Rabat, mas foram impedidos pela intervenção policial.
Diversos manifestantes foram agredidos pela polícia de intervenção, com muitos professores feridos e diversos que desmaiaram, indica a AP. Ambulâncias e viaturas policiais foram enviadas para o local.
Milhares de manifestantes, muitos com as batas brancas dos professores, confluíram de diversos pontos de Marrocos para Rabat onde reivindicaram aumentos salariais, progressões na carreira, e protestaram pelas reduzidas oportunidades para os docentes menos qualificados, que recebem um salário mensal de 400 euros.
Insurgiram-se ainda pelo facto de os contratos temporários do Estado não incluírem cuidados de saúde ou direito a pensão de reforma.
Em simultâneo, milhares de pessoas ocuparam as ruas em várias cidades de Marrocos, exigindo reformas democráticas e justiça social.
No decurso da Primavera árabe os marroquinos não derrubaram um ditador, como sucedeu na Tunísia e Egito, mas agora promovem manifestações regulares de protesto, em torno da escassez no abastecimento de água a várias regiões, da violência sexual, ou dos abusos policiais, precisa a AP.
Atualmente, de acordo com o Ministério para os Direitos Humanos, registam-se em média 48 protestos diários em Marrocos.
Alguns participantes no movimento 20 de fevereiro lamentam os resultados limitados destas ações, o incumprimento das promessas na sequência dos protestos de 2011, e o regresso de uma intensa repressão policial.
Recordam ainda a condenação a pesadas penas de prisão dos dirigentes do movimento social Hirak, na região do Rif, iniciado em finais de 2016.
Devido aos receios sobre os desfechos da Primavera árabe na Tunísia e Egito, e numa tentativa de evitar agitação nas ruas, a elite no poder em Marrocos optou por escutar algumas das preocupações dos contestatários e prometeu algumas mudanças.
Em março de 2011, o rei Mohammed VI anunciou reformas constitucionais graduais. O moderado Partido da Justiça e do Desenvolvimento (PJD, islamita), durante muito tempo na oposição, venceu as legislativas e assumiu o controlo do governo no final desse ano.
Atualmente, Marrocos confronta-se com a pobreza, corrupção e um desemprego endémico, que o movimento 20 de fevereiro não conseguiu reverter.