Carlos César diz que "dá jeito" ao PSD vender o país como um "monte negro" de problemas
O presidente do PS, Carlos César, considerou, este domingo, que "dá jeito" ao líder do PSD, Luís Montenegro, "vender a ideia do país como se fosse um monte negro de problemas", acusando-o de incoerência.
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No discurso de encerramento da Academia Socialista, em Évora, Carlos César começou por lamentar que o PSD nunca reconheça "o que tem corrido bem" na governação socialista.
"À vezes dizem-me: 'mas porque é que não há dia em que o presidente do PSD não fale sempre naquela gritaria, sempre bramindo contra qualquer medida do Governo, contra o Governo, contra o PS, ou até insultando o primeiro-ministro?'", disse.
Confessando ter "simpatia pessoal" por Luís Montenegro, César defendeu que a resposta "é simples, mas infelizmente civicamente intranquilizadora". "Essa negação constante, e essa gritaria, sempre reincidentes, é não só porque o líder do PSD precisa de mostrar, para sobreviver no seu partido, que fala mais alto do que Rui Rio ou do que os restantes líderes da direita, como é que porque o PSD está convencido que não se alimenta, que não engorda com o que de bom acontece no nosso país, e o que lhe dá mais jeito é vender a ideia de um Portugal como se fosse um monte negro de problemas", acusou.
Carlos César incentivou o PS a prosseguir "no cumprimento dos programas que os portugueses foram sucessivamente sufragando" antes de lançar nova 'farpa' aos presidente dos sociais-democratas. "Sabemos o que queremos, sabemos o que estamos a fazer e sobretudo não somos como o maior partido da oposição, que de líder em líder, num salta-pocinhas, diz uma coisa num dia e outra noutro, ou diz uma coisa e o seu contrário no mesmo dia, ou, como no caso da redução de impostos, diz num dia o contrário do que disse no ano anterior, ou diz num dia o que tem a certeza que o Governo pretende dizer no dia seguinte", atirou.
Carlos César considerou que o PSD "não quer falar do bom que acontece e que, felizmente, é muito", enumerando o crescimento da economia, o valor das exportações, a diminuição do défice, "a trajetória que está a ser feita da diminuição de impostos" ou até a "valorização da carreira dos professores".
À questão de porque é que algumas medidas do Governo não foram tomadas antes, César respondeu que, para tal, as finanças públicas têm que o permitir, e se estão a avançar atualmente, tal "é obra e resultado da governação do PS".
Momentos antes, o eurodeputado Carlos Zorrinho interveio para pedir atenção ao interior do país e avisou que o partido tem pela frente "um ano político desafiante". "Um ano político que abre com uma oposição que se refugiou de fazer propostas para se tornar numa espécie de observatório entre as relações institucionais entre o governo e a Presidência da República. Não jogam, não participam no jogo democrático, são treinadores de bancada, não arriscam ir a jogo, sugerir, comentam, são um observatório", atirou.
César recomenda ao PS abertura e "muita paciência" para proteger estabilidade institucional
O presidente do PS, Carlos César, recomendou ao partido abertura, nomeadamente na discussão da proposta de Orçamento do Estado para 2024, e ainda "muita paciência" para continuar a proteger a estabilidade "nas relações entre os órgãos de soberania". "O PS sabe que, sendo a estabilidade um valor de confiança e de credibilidade do nosso país, sabe que tem de, com muita paciência, muita paciência, continuar a procurar essa estabilidade, a proteger essa estabilidade, inclusive no plano institucional e, desde logo, nas relações entre os órgãos de soberania", defendeu.
"Mesmo assim, permita que vos diga que, se propostas como as que foram anunciadas nesta academia, como em relação a outras, inclusive em sede da discussão próxima do Orçamento do Estado, o PS deve entender que lhe cabe sempre aproveitar os contributos que sinceramente achar úteis e achar melhores para a governação e para o bom sucesso no nosso país, venham eles de que partidos ou entidades vierem", avisou.
Para o presidente dos socialistas, desta forma, o PS provará "além da maioria parlamentar" a sua "maioridade política".
Num discurso de cerca de meia hora, Carlos César lembrou que o PS "não é dono do país, nem o único a ter as melhores ideias ou a ter sempre as boas ideias".
Carlos César defendeu que o PS deve congratular-se com os "avanços conseguidos" mas sem se conformar: "É preciso que a insatisfação e o conformismo permaneçam no nosso lado e do nosso lado", avisou.
Na opinião do dirigente socialista, o PS "conta e tem que contar com a sua juventude e com a juventude portuguesa" para vencer desafios, entre eles, os das próximas eleições.
"Vencer as legislativas em 2026 e vencer as europeias já no próximo ano", afirmou.
Apesar dos avanços já conquistados pelos socialistas, César deixou alguns avisos para "insuficiências nas respostas em vários domínios", entre eles, a habitação e a saúde.
"Estamos cientes, na saúde, como na habitação, que temos que fazer mais e mais depressa, e mobilizar também, em ambos os casos, a contribuição decisiva do setor privado", defendeu.
Também no que toca à descentralização, César congratulou-se com os "avanços já realizados" mas alertou os socialistas "que muitos dos défices que se mantêm de credibilidade e de eficiência de serviços públicos se radicam na insensibilidade, na desatenção e na desadequação influenciadas pela distância das suas tutelas", considerando que "o país político não deve temer a descentralização".
"Na lógica freudiana diz-se que é impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de fugas. Mas há sempre pessoas e políticos que, de tanto as fazerem, perdem o sentido do país real. Ao invés, por isso, todos temos que ter a consciência de que há problemas e bloqueios na sociedade portuguesa que ainda afligem as famílias e as empresas", alertou, apesar de enaltecer os "muitos e bons resultados da governação do PS".
Perante um "exigente calendário eleitoral", César fez referência às eleições na Madeira este ano, e nos Açores em 2024, passando pelas europeias também no próximo ano, pelas autárquicas em 2025 e as presidenciais e legislativas em 2026.
O PS terá que tomar decisões sobre as eleições presidenciais de 2026, disse César, mas tudo "a seu tempo".
"O que para já nos interessa como partido do Governo é que o PS sabe que deve entregar aos juízo dos portugueses no final deste seu mandato em 2026, o país prometido e os avanços a que se comprometeu nas ultimas eleições legislativas. Estamos a fazer esse caminho, para cortar a meta como vencedores", rematou.