Abdulazez Dukhan é um dos milhões de sírios que se viu obrigado a fugir da guerra na Síria, onde a partir de rosas se fizeram armas e onde os muros erguidos nas fronteiras taparam o cenário de destruição para o exterior.
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Abdulazez já viu as casas e as ruas do seu país serem aniquiladas. Agora, quer ver o mesmo a acontecer com as fronteiras. Para si, a melhor forma de o fazer passou por escrever uma carta a alguém que, nos últimos meses, tem repetido a vontade de erguer paredes entre países e de barrar a entrada a estrangeiros.
"Querido Donald, o meu nome é Abdulazez Dukhan. Tenho 18 anos. Sou um dos quatro milhões de pessoas que fugiram da Síria. Deixamos para trás os nossos corações e as pessoas que perdemos - ambos enterrados a meio do caminho." É assim, com uma explicação simplista dos sacrifícios que o abandono de um país acarreta, que começa a carta ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, partilhada na estação televisiva árabe Al Jazeera.
Abdulazez é o autor de um projeto fotográfico independente criado em abril de 2016 com o propósito de "dar voz a quem não a tem", como explica na página de Facebook da iniciativa.
Tal como as fotografias, que representam o dia-a-dia da Síria e dos campos de refugiados, também a mensagem divulgada constitui um apelo à comunidade internacional.
"Estou a escrever-lhe esta mensagem para o parabenizar pela presidência, mas também para o relembrar da importância das suas palavras nas decisões do futuro", continua, pedindo a Trump para usar o seu poder para mudar o futuro dos migrantes, acrescentando que o seu antecessor, Barack Obama, não conseguiu fazê-lo.
"Começámos a revolução a segurar rosas e a esperar apoio da comunidade internacional. Os anos passaram, as rosas transformaram-se em armas, mas a esperança por apoio continua. Ainda assim, nem as rosas nem a esperança ajudaram.
Deixei a Síria com a minha família quatro anos depois de a revolução ter começado. Ninguém queria ir embora. Mas o que é que podemos nós fazer contra os tanques? O que é que podemos fazer quando a morte cai do céu?"
Abdulazez explica que foi para a Turquia e depois para a Grécia, enquanto via as cidades do país onde nasceu serem destruídas. O mais difícil foi viver num campo de refugiados: é o isolamento. "As pessoas constroem muros à nossa volta e os países erguem muros à volta desses", escreve na carta, onde salienta que já viu sonhos de pessoas morrerem antes dos seus corpos.
"Querido futuro presidente (...) por todos os que ainda têm fé, por favor, não construa muros à nossa frente. Querido futuro presidente, esperamos que alguém ouça as nossas palavras. Esperamos que nos ouça."