Casas destruídas e famílias de luto: sismo arrasa aldeia nas montanhas do Afeganistão

Foto: EPA
Nenhuma família escapou à morte ou a ferimentos na aldeia de Wadir quando um forte terramoto abalou o leste do Afeganistão, reduzindo as casas a montes de escombros.
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Os tremores secundários do sismo de magnitude 6 continuaram a ecoar pelos cenários de destruição, onde restos de animais mortos se projetavam de um emaranhado de vigas partidas e casas lamacentas e destruídas.
"Em cada casa, pelo menos uma pessoa morreu ou ficou ferida", disse à AFP Gul Mohammad Rasooli, um residente de 55 anos, que também estava ferido.
O cheiro da morte misturava-se com o som de mulheres a chorar e de pás a raspar, enquanto as equipas de resgate e os habitantes locais tentavam desesperadamente encontrar alguém ainda vivo.
Em frente ao que era uma casa térrea de tijolos de barro, os socorristas não se deixaram intimidar por uma série de tremores de terra que ecoaram pelas montanhas enquanto tentavam encontrar duas crianças. A mãe ficou ferida "e, quando a retirámos, chamava pelos filhos", que ainda estavam lá dentro, contou um socorrista à AFP.
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Muitas famílias dormiam quando o sismo ocorreu na calada da noite.
A cada 15 minutos, o rugido de um helicóptero ecoava pelo ar, com os agentes de segurança talibãs a sair para descarregar pão e água e, em seguida, a reabastecer a aeronave com macas que transportavam os mais feridos. Homens, mulheres e crianças foram transportados para hospitais na cidade mais próxima, Jalalabad, capital da província de Nangarhar, a cerca de 40 quilómetros de distância.
Muitas estradas nas zonas montanhosas ficaram intransitáveis devido aos deslizamentos de terra.
"Pode não sobreviver"
O terrível balanço do sismo começou a ficar claro desde as primeiras horas após o sismo, na manhã de segunda-feira. O país - um dos mais pobres do Mundo e regularmente atingido por catástrofes naturais que se deverão multiplicar sob os efeitos das alterações climáticas - já contabilizou mais de 800 mortos.
Milhares de feridos já estão amontoados em hospitais, onde médicos e enfermeiros trabalham freneticamente no meio do fluxo constante de macas.
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Em Wadir, onde cerca de mil casas estão aninhadas nas montanhas da província de Kunar - metade delas pertence a afegãos recentemente expulsos do vizinho Paquistão e que tentam reconstruir as suas vidas - ninguém se atreve ainda a divulgar o número final de mortos. "Não será errado dizer que nove em cada 10 pessoas estão mortas ou feridas", disse o médico Fazel Rabih, de 38 anos, que prestava os primeiros socorros.
O leste do Afeganistão não é estranho a sismos poderosos, tendo visto 12 com magnitude superior a sete desde 1900. Mas Mohammad Jawad, residente em Wadir, de 20 anos, disse nunca ter sentido um sismo tão forte. "Quando o terramoto aconteceu, foi tão forte que saí a correr da casa e ela desabou imediatamente atrás de mim", disse à AFP, afirmando que, entre os 10 membros da sua família, uma pessoa morreu e a maioria dos outros ficou ferida.
Mesmo com a terra a tremer debaixo dos pés, os habitantes locais temem que o pior ainda não tenha passado, enquanto nuvens escuras de chuva se acumulam nas montanhas. Não há abrigo para os que ficaram nos restos destruídos da aldeia, disse o mullah Irfan Ulhaq. "Se alguém estiver vivo debaixo dos escombros, pode não sobreviver."
