Aperta-se o cerco ao "Tio Bernie". Na véspera da "super terça-feira" das primárias para escolher o candidato do Partido Democrata à disputa da presidência dos Estados Unidos com Donald Trump, que elegem mais de um terço dos delegados à convenção de julho, o terceiro pretendente na corrida, Pete Buttigieg, e a senadora Amy Klobuchar saíram da corrida. O empresário Tom Steyer tinha desistido na véspera.
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O esforço eleitoral "centrista" está a agrupar em torno do ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden, o candidato do consenso democrata hostil às ideias "esquerdistas" do senador pelo Vermont, Bernie Sanders, 78 anos, cuja dinâmica eleitoral transcende a meta da votação para tentar substituir o inquilino da Casa Branca. A propósito, Trump chama-lhe "louco".
"Não se trata apenas de eleições, mas de um movimento", tem repetido Sanders, com um discurso de rutura e propostas sociais (acesso universal e gratuito à saúde, aumento de impostos para os ricos e taxas para a especulação bolsista, por exemplo) que atraem jovens e trabalhadores.
O valor da Califórnia
A Califórnia, com 39 milhões de habitantes, que elege 415 delegados (é o maior círculo), é uma amostra significativa. Segundo um estudo do Instituto de Políticas Públicas deste estado, Sanders arrecada 32% das intenções de voto, com o apoio 53% dos jovens e latinos entre os 18 e os 44 anos. A média das sondagens calculada ontem pelo sítio Real Clear Politics mantém Sanders à frente, com 28,5%, a boa distância Joe Biden, 77 anos, que arrecada 20%. E concede-lhe uma vantagem confortável precisamente na Califórnia, com 34,7%, dando 18% a Biden. "O candidato que ganhar a Califórnia tem muitas possibilidades de ganhar a nomeação", declarou Sanders, anteontem.
Nas primárias de hoje - que se seguem às primárias no único estado em que Biden ganhou (48%), e decorreram em 14 estados, que elegerão 1457 delegados - há outras circunscrições muito importantes com preferência por Sanders, como o Texas, que elege 228 delegados, Virgínia (99), Massachusetts (91), ou Colombo (67). Só na Carolina do Norte (110 representantes) Biden surge um pouco à frente (25,6% contra 23,4%).
Toque a reunir
O "centrismo" do partido tocou a reunir. O ex-governador da Virgínia Terry McAuliffe pediu aos candidatos mais fracos que desistissem antes desta "super terça-feira". O ex-presidente da Câmara de South Bend (Indiana) Pete Buttigieg, a senadora Amy Klobuchar (Minnesota) e o empresário Tom Steyer escutaram-no.
Os delegados que Buttigieg (26) e Klobuchar (sete) conquistaram podem ter algum valor - em todo o caso, pequenino, entre os 3979 delegados à convenção - pois poderão comparecer à convenção e aconselhá-los a votar no seu candidato favorito. Ele não disse quem é; ela apoia Biden.
Os analistas entretêm-se a estimar que os votos previstos para Buttigieg podem ser divididos entre Joe Biden e a senadora também "progressista" Elizabeth Warren; um ou outro estudo aponta Sanders como eventual beneficiário.
Falta falar de uma figura que tem contado mais pela fortuna que ostenta (a oitava do Mundo) do que pelo desempenho - o multimilionário Michael Bloomberg -, apesar da quantia escandalosa (mais 500 milhões de dólares só no dia 24 para inundar as televisões de anúncios, 63,2 milhões nas televisões da Califórnia) que já gastou na campanha. Também ele aposta nesta "super terça-feira" - se não for para ganhar terreno, ao menos para fustigar o "comunista" Sanders.