Entre mais de um milhão, segundo o Ministério do Interior, e 3,5 milhões de manifestantes - só em Paris seriam 800 mil, diz a CGT, ou 119 mil, segundo o Governo - voltaram hoje às ruas em 300 localidades francesas, em protesto contra a alteração às regras das pensões, tendo-se registado confrontos e cargas da Polícia, com recurso a canhões de água, gás lacrimogéneo e unidades especiais das Companhias Republicanas de Segurança (CRS), que fizeram dezenas de detenções.
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Durante a tarde ocorrem confrontos na capital, especialmente na Praça da Ópera, onde a chegada da cabeça da marcha, iniciada na Praça da Bastilha, foi repelida pela Polícia com granadas de gás lacrimogéneo. As pessoas que se refugiaram no metro foram desalojadas à força.
Um ostensivo dispositivo das CRS, com canhões de água e elementos das CRS 8 (especialistas em violência urbana) e das unidades de intervenção rápida em motos (BRAV-mM), destinadas a dispersar multidões, enfrentava os manifestantes.
Elementos geralmente embuçados e vestidos de negro atacaram e incendiaram pilhas de pneus e detritos, tendo arremessado pedras e outros objetos contra a Polícia. Há relatos de incidentes e confrontos também em cidades como Nantes, Lyon, Bordéus, Rennes e Marselha.
Em causa, recorde-se, está a nova lei da segurança social que o Governo fez passar sem votação na Assembleia Nacional, que passa a idade de reforma para os 64 anos e impõe 43 anos de descontos.
Os primeiros desfiles começaram pela manhã em Reims, Nantes, Montpellier, Marselha, Cambrai, Guerét e Aurillac, engrossando ao longo do dia. Segundo estimativas coligidas pelo diário "Le Monde", atingiram 800 mil em Paris, 280 mil em Marselha, 55 mil em Lyon, 40 mil em Montpellier e 35 mil em Saint-Étienne.
"Coquetel explosivo"
O líder do partido de esquerda A França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, apelara aos franceses para que lançassem "todas as suas forças na batalha" e advertira o Governo para o "coquetel explosivo". O secretário-geral do Partido Comunista Francês, Fabien Roussel, pedira "a ampliação do movimento, mas de maneira pacífica e não violenta". À tarde, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, acusou os insubmissos de "atiçarem a violência".
As manifestações convergiram com paralisações nos transportes ferroviários, refinarias e reservatórios de combustíveis, energia, recolha de resíduos e educação, havendo centenas de escolas secundárias e faculdades bloqueadas. A greve dos controladores aéreos obrigou ao cancelamento de 30% dos voos no Aeroporto de Orly (Paris) e 20% nos de Marselha, Toulouse e Lyon.
Nos caminhos-de-ferro, circulam metade dos comboios de alta velocidade e 30% das viagens regionais estão afetadas. Na periferia de Paris, a greve suprimiu entre 50% e 80% das ligações. Na rede metropolitana da capital funcionam apenas as duas linhas automáticas.
Piquetes de greve nas refinarias procuram impedir a saída de combustível. O "Le Monde" precisou que 15,14% dos postos de abastecimento estão em penúria e que vários aeroportos, incluindo da região de Paris, de Lyon, Montpellier e Pau estavam a ficar sem queroseno para as aeronaves, devido ao bloqueio no depósito de Gonfreville, na Normandia.
Registaram-se também bloqueios em dezenas de estradas em muitas localidades e acessos a parques industriais, portos, incluindo na importante região de Calais, e aeroportos. Sítios turísticos como a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo estiveram fechados.