A censura chinesa eliminou os vídeos difundidos na Internet pela internauta Papi Jiang, que nos últimos meses se converteu numa sensação devido aos monólogos em que ironiza com a vida quotidiana no país.
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A Administração Estatal de Imprensa, Publicações, Rádio, Cinema e Televisão, um organismo do Governo chinês, ordenou a retirada dos vídeos, que tinham no conjunto mais de 100 milhões de visualizações.
"Requer-se ao programa que exclua linguagem repugnante e conteúdo vulgar antes de poder regressar à rede", afirmou o organismo encarregado da censura, através de um comunicado citado pela agência oficial Xinhua.
Papi Jiang, o pseudónimo usado por Jiang Yilei, uma mulher de 29 anos natural de Xangai e formada pela Academia Central de Teatro de Pequim, tornou-se nos últimos meses famosa entre os internautas chineses.
Através de uma linguagem direta e mordaz, Jiang, que inicia os seus monólogos com a frase "Sou Papi Jiang, uma mulher que combina beleza e talento", difundiu vídeos onde descreve várias situações do quotidiano em jeito de crítica social.
A internauta, uma "sheng nu" ("encalhada") - termo que na China designa as mulheres solteiras com cerca de 30 anos - ironiza com o excessivo consumismo no país, as pressões familiares para que as jovens casem e até as tradições do Ano Novo Lunar.
Os vídeos são difundidos através do Youku, o equivalente chinês ao Youtube, e das redes sociais Weibo e Wechat, utilizadas por centenas de milhões de chineses.
Num dos registos, a internauta faz uma imitação velada do ex-presidente chinês Jiang Zemin.
Ante a proibição, Papi Jiang pediu desculpas públicas através da sua conta no Weibo (o Twitter chinês). "Terei mais cuidado com as minhas palavras e a minha imagem, responderei decididamente a todas as petições de retificações dos meus vídeos e transmitirei energia positiva", assinalou.
Yang Ming, empresário e sócio de Jiang, assinalou em declarações à imprensa chinesa que a sua colega "continuará a difundir vídeos de acordo com os valores socialistas".
Desde que ascendeu ao poder, em 2012, o presidente chinês Xi Jinping apelou em várias ocasiões aos agentes culturais para que obedeçam aos "valores socialistas" nas suas criações.
A mensagem traduziu-se num reforço da censura para níveis não vistos desde há várias décadas.
Nos últimos meses, as séries de televisão foram proibidas de incluir personagens homossexuais e vários jornalistas e editores de órgãos de comunicação chineses foram despedidos ou censurados por criticar decisões do Governo, mesmo que de forma subtil.