A morte de gémeos de 12 anos, num ataque paquistanês quando fugiam da cidade de Poonch, em Caxemira, na Índia, ajudou a unir uma comunidade em estado de choque.
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Zian Khan e a sua irmã Urwa Fatima foram atingidos por um projétil de artilharia na quarta-feira, quando os seus pais tentavam abandonar a cidade que tem sido alvo de repetidos ataques.
Os últimos confrontos são os piores das últimas décadas entre os dois países, que possuem armas nucleares, e já mataram mais de 60 civis de ambos os lados.
A mãe dos gémeos, Urusa Khan, de 30 anos, sobreviveu ao ataque com ferimentos ligeiros. O pai, Rameez Khan, de 46 anos, está no hospital com a vida em risco, sem saber que os filhos já não estão vivos.
“Nenhum de nós jamais experimentou um ataque tão direto à nossa cidade ou a zonas civis”, disse à AFP Sarfaraz Mir, de 40 anos, primo dos gémeos mortos.
“Ninguém pensou que isto pudesse acontecer, mas parece que os civis e a cidade estão a ser especificamente visados”, disse. “As pessoas estão com muito medo agora”.
Pelo menos 12 pessoas foram mortas e outras 49 ficaram feridas desde que os bombardeamentos se intensificaram em Poonch, a cerca de 230 quilómetros de Jammu, a segunda maior cidade da Caxemira administrada pela Índia.
Apenas alguns milhares de habitantes permanecem em Poonch, onde viviam cerca de 60 mil pessoas.
A maioria dos residentes fugiu na quarta-feira à noite em carros, autocarros e mesmo a pé, horas depois do início do bombardeamento noturno sem precedentes.
"Chocante, inacreditável”
Enquanto a família dos gémeos tentava sair apressadamente de casa na quarta-feira, a mãe voltou a entrar por instantes para ir buscar algo que se tinha esquecido.
“Nesse preciso instante, um projétil explodiu na rua estreita em frente à sua residência”, contou Mir. Urwa morreu instantaneamente e o seu irmão foi hospitalizado mais tarde.
“As pessoas só chegaram ao pai mais tarde... e (ele) ainda está em estado crítico”, acrescentou.
A família tinha-se mudado de uma aldeia em Poonch para ficar perto da escola dos gémeos. “Arrependem-se dessa decisão”, disse à AFP Fiaz Diwan, de 30 anos, amigo da família e antigo vizinho na aldeia de Chaktroo.
“A notícia da morte [dos gémeos] foi chocante, inacreditável”, disse Diwan. “Talvez ainda estivessem vivos se não fosse o desejo dos pais de lhes dar melhor educação e o melhor futuro.”
"Ainda tinham uma vida inteira pela frente”
A morte dos gémeos uniu comunidades díspares que se debatem com a perda e a destruição em Poonch. Mir conta que muitos tinham sofrido, incluindo “uma criança a quem cortaram a cabeça, uma vítima da minoria sikh local - mas os gémeos são difíceis de esquecer”.
Poonch “é um bouquet de comunidades - hindus, sikhs e muçulmanos - que vivem juntas”, afirmou.
Um complexo de templos sikh e um templo hindu foram danificados durante o bombardeamento.
O secretário dos Negócios Estrangeiros indiano, Vikram Misri, evocou na sexta-feira a morte dos gémeos e acusou o Paquistão de “atacar e bombardear locais de culto com um objetivo específico”.
"Isto inclui Gurdwaras (templos sikh), estes conventos e templos (hindus). Isto é um novo mínimo, mesmo para o Paquistão", acrescentou.
Os últimos confrontos seguem-se a um ataque no mês passado no lado da Caxemira administrado pela Índia, que matou 26 turistas, na sua maioria homens hindus, e que Deli atribuiu a Islamabad.
O Paquistão negou qualquer envolvimento e apelou a uma investigação independente
Pankaj Sharma, de 48 anos, um hindu de Poonch, lamentou a morte dos gémeos, dizendo que “ainda tinham uma vida inteira pela frente”.
Logo após o funeral dos gémeos, a mãe foi para o hospital para estar com o marido gravemente ferido. “Deus deu-lhe realmente nervos de aço para passar por tudo isto com calma e dignidade”, disse Mir.