Vários destinos europeus aproveitam pandemia para reforçar medidas de controlo de fluxos e equilíbrio com residentes, aproveitando tecnologias.
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Para muitas cidades europeias, a pandemia foi a pausa necessária para repensar os modelos de gestão e fluxos, implementando ou reforçando medidas que evitem a destruição das localidades. De Veneza a Amesterdão, aplicam-se taxas, restrições e promovem-se novos circuitos para que, debelada a covid-19, o regresso seja mais sustentável.
É a oportunidade para que a concentração excessiva, um "modelo de má gestão e mau planeamento", seja alterada "com base em três vetores estruturais: a sustentabilidade ambiental, a coesão social e as tecnologias". As diretrizes são elencadas por Carlos Costa, diretor do departamento de Turismo da Universidade de Aveiro e perito incumbido pela União Europeia de avaliar em Portugal o impacto da pandemia.
O turismo será o "elemento-chave para regenerar as nossas cidades e países e aumentar a competitividade da Europa", acredita Luís Araújo, presidente da European Travel Commission e do Turismo de Portugal, ressalvando que o regresso aos níveis pré-pandemia apenas deverá acontecer em 2023 ou 2024.
A principal preocupação agora é ajudar as empresas do setor "a reconstruírem a sua atividade de forma digital e amiga do ambiente, com um enfoque claro nas pessoas: turistas, locais e trabalhadores". As informações devem ser aproveitadas para uma "melhor gestão", ajudando a alcançar maior "sustentabilidade" sem descurar o "necessário crescimento".
Veneza
Recolha de dados evita multidões
Os dados recolhidos pelos telemóveis e o recurso a câmaras de vigilância são os mais recentes métodos para monitorizar turistas e evitar multidões em Veneza, Itália. Outras medidas passam por proibir o acesso dos navios aos canais centrais da cidade. A partir do próximo ano, os visitantes deverão ter de pagar taxas para entrar (entre três e 10 euros, conforme seja época baixa ou alta) e os acessos serão controlados. Vários autarcas fizeram chegar ao Governo italiano uma lista de exigências, que inclui limitar os arrendamentos dos Airbnb e a abertura de novas lojas de recordações, para dar lugar a mais alojamento e lojas de produtos para a população local.
Amesterdão
Acesso restrito a prostituição
A Câmara quer refrear o turismo ligado à prostituição e drogas leves. Em junho do ano passado, tentou proibir o arredamento de curto prazo em três zonas do centro de Amesterdão, Países Baixos, mas um tribunal travou a intenção. Quer, ainda, encerrar as montras onde as prostitutas se mostram e construir um centro erótico na periferia da cidade. Os cafés apenas deverão vender drogas leves aos locais.
A pandemia acelerou várias medidas para evitar que as lojas de recordações substituam negócios locais e impedir que investidores transformem mais residências em alojamento local e construam novos hotéis. A taxa turística e as multas por falta de civismo subiram.
Lourdes
Partilhar veículos e mais atrações
O santuário francês está a mudar a abordagem para acolher turistas, procurando recentrar a sua missão religiosa. Tem um plano a 10 anos que consiste em modernizar-se e atrair novos visitantes de forma sustentável.
Em fevereiro foi lançado um programa de sistemas partilhados de carros e bicicletas e em dezembro reabrirá uma linha de caminho de ferro desativada. Haverá novas atrações: um caminho medieval reconfigurado levará os turistas ao castelo, que está a ser restaurado.
Barcelona
Limitar alojamento e criar percursos
Ainda antes da covid-19, a cidade implementou regras duras em termos de alojamento, deixando de haver novas licenças no centro de Barcelona, Espanha. Foram criadas outras restrições e rotas de autocarros, para espalhar os visitantes por vários locais. Aplicações e projetos como o "Check Barcelona" ajudam a levar os turistas para locais menos congestionados e mostram outras atrações, além das principais.
Paris
Controlar tráfego e diversificar oferta
Várias medidas para tornar a cidade mais sustentável começaram a ser tomadas ainda antes da pandemia, com restrições de acesso automóvel e taxas. Os autocarros de turistas deixaram de ser bem-vindos no centro da cidade francesa, privilegiando-se as deslocações a pé, de bicicleta ou em transportes públicos. Da estratégia do município fazem parte a diversificação de ofertas (fora da época "alta") e promoção de outros locais menos turísticos.