Cientistas do Reino Unido afirmaram, esta quarta-feira, que a produção de energia de fusão nuclear está em níveis nunca antes registados, um passo para a operacionalização do maior reator do mundo, em França.
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Uma equipa do Joint European Torus (JET), localizado perto de Oxford, gerou, em dezembro, 59 megajoules de energia de fusão nuclear em cinco segundos, mais do dobro do último recorde, atingido em 1997, segundo a Autoridade de Energia Atómica do Reino Unido.
Este teste, que contou com investigadores europeus, incluindo portugueses, visa preparar a operacionalização do maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, que está a ser construído em França.
Os resultados "são a demonstração mais clara do potencial da fusão para fornecer energia sustentável", apontou, em comunicado, a Autoridade de Energia Nuclear.
Cerca de 350 cientistas da União Europeia, Reino Unido, Suíça e Ucrânia participam, todos os anos, nos testes realizados no reator de fusão tokmak do JET.
No centro do reator, os ímanes contém 0,1 miligramas de deutério e trítio (isótopos do hidrogénio), aquecidos a uma temperatura 10 vezes superior à do centro do sol para criar plasma, permitindo que os núcleos de hidrogénio colidam e se fundam em átomos de hélio mais pesados, libertando energia.
A fusão nuclear pode produzir quatro milhões de vezes mais energia do que o carvão, petróleo ou gás.
O maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, o International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), em construção no sul de França, estará preparado para produzir 500 megawatts por períodos de 400 a 600 segundos, devendo começar a funcionar, numa primeira etapa, entre 2026 e 2027.
O Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear participa no ITER com sistemas de detetores que permitem "determinar alguns parâmetros do plasma no interior do dispositivo", como densidade e temperatura, e com "o controlo e a aquisição dos dados" que serão posteriormente analisados, disse à Lusa o presidente do instituto, Bruno Soares Gonçalves.
A experiência cujo resultado foi hoje anunciado aconteceu em finais do ano passado e faz parte de uma campanha de ensaios promovida pelo consórcio europeu Eurofusion e que, segundo Bruno Soares Gonçalves, "ajuda a preparar o ITER" com dados "bastante consistentes".