Um grupo de cientistas da Universidade de Miami criou um algoritmo baseado em fórmulas da física e da química, para tentar detetar ações do Estado Islâmico através das redes sociais.
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Com a ameaça terrorista a pairar sobre o mundo, prever um atentado terrorista ou uma ofensiva de um grupo extremista como o Estado Islâmico seria uma arma fundamental para os serviços de segurança e informações. A pensar nisto, um grupo de cientistas liderados por Neil Johnson dedicou-se a estudar as movimentações nas redes sociais de grupos extremistas.
Mas ao contrário do que tem sido feito até ao momento, em que as autoridades tentam seguir elementos-chave destas organizações - que trocam constantemente de nome e de contas - ou encontrar sentido em informações partilhadas por milhões de pessoas - correndo o risco de perder informações relevantes -, estes cientistas focaram-se em pequenos grupos que podem revelar as tendências gerais da organização.
Cientistas focaram-se em pequenos grupos que podem revelar as tendências gerais da organização
Aplicando os conhecimentos da Natureza, o responsável comparou a ideia com a movimentação de um cardume de peixes: "não há um peixe a dizer que quer todos a uma distância de 12 cm dos outros e que o cardume vai ter uma determinada forma".
Para concretizar o estudo publicado esta quinta-feira na revista "Nature", o grupo analisou a rede social russa Vkontakte (com cerca de 350 milhões de utilizadores) em busca de apoiantes do Estado Islâmico, através de "hashtags" e outras palavras-chave. A escolha desta rede social em detrimento do Facebook foi feita em grande parte devido à maior permissividade em relação a conteúdos ligados a terrorismo.
Cientistas analisaram movimentações, interações e publicações
Chegando a um conjunto de 196 grupos pró-Estado Islâmico, os cientistas analisaram as suas movimentações, interações e publicações e criaram uma fórmula matemática que associasse essas movimentações a acontecimentos reais. O objetivo deste trabalho é a criação de uma "ciência quantitativa do extremismo online, que pudesse substituir a narrativa caixa-negra que é usada atualmente", afirmou ao "The New York Times" Neil Johnson.
Os investigadores conseguiram ver os grupos a formarem-se, desintegrarem-se, entrarem em estados de hibernação e a despertarem, mesmo que a maior parte dos mais de 100 mil membros provavelmente não se conhecessem na vida real. Com isto, o estudo afirma que o aumento na criação destes pequenos grupos poderá significar que um grande evento estará para breve.
Ainda assim, os cientistas são cautelosos ao apresentar as conclusões do estudo, deixando margem a evolução, já que neste momento há apenas um estudo de caso divulgado. Inserindo os dados na fórmula matemática sobre momentos anteriores à invasão de Kobane, na Síria, a equação revelou um resultado que correspondia à invasão da cidade.
Segundo o jornal norte-americano o trabalho está a ver visto com alguma precaução por vários especialistas em segurança e terrorismo, apesar de acompanharem com interesse o trabalho desta equipa.
Apesar de a investigação afirmar que mesmo os "lobos solitários", como os autores dos ataques em San Bernardino e Orlando, se juntam a estes pequenos grupos em pouco tempo, a utilidade da fórmula para este género de atentados é ainda questionável. "Com o tempo, seríamos capazes de observar a trajetória de indivíduos através desta ecologia de grupos", afirmou o autor do estudo citado pelo jornal britânico "Daily Mail".