Homens armados da Renamo metralharam esta quinta-feira viaturas nos dois troços da N1, a principal estrada de Moçambique, sujeitos a escoltas militares obrigatórias, aumentando para cinco o número de ataques em três dias.
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Sididi Paulo, porta-voz do comando da Polícia da Republica de Moçambique (PRM) de Sofala, disse que um homem foi ferido por balas, quando às 07:45 (05:45 em Portugal) a coluna que seguia de Muxúnguè para Save foi atingida por tiros, disparados à distância por militares da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), e duas viaturas sofreram danos ligeiros, uma das quais no computador de bordo.
"Mesmo depois desta ação, os carros prosseguiram com a marcha e a escolta continuou até Save", precisou Sididi Paulo, fazendo um apelo à população residente nos perímetros de segurança das escoltas das forças de defesa e segurança para denunciar os atacantes, "visando conduzi-los à barra do tribunal".
Mais a norte e também na província de Sofala, uma testemunha relatou à Lusa um outro ataque à primeira coluna que seguia no sentido Nhamapadza-Caia, mas sem danos.
Sididi Paulo afirmou que o balanço dos ataques de hoje será feito com detalhes na sexta-feira, quando os pormenores chegarem do terreno.
Segundo a polícia, desde 19 de fevereiro, foram registados 19 incidentes, na escalada de violência política que assola o país, e que provocaram duas mortes - um atacante na Gorongosa e um civil queimado no interior da viatura em Nhamapadza.
No balanço da Polícia não consta um militar da guarda fronteira, morto em confrontos na Gorongosa, no mesmo dia em que foi abatido um dos atacantes.
Outras oito pessoas ficaram feridas, três das quais com gravidade, 15 viaturas civis sofreram danos ligeiros, a maioria com perfurações de balas nas partes laterais e três ficaram totalmente destruídas após terem sido incendiadas.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento de oposição reivindica vitória nas eleições gerais de outubro de 2014.
Esta é a pior crise em Moçambique desde o Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, assinado a 05 de setembro de 2014 pelo ex-Presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Apesar de dois encontros entre Nyusi e Dhlakama no início de 2015, a violência política voltou a Moçambique e agravou-se nos últimos meses, com acusações mútuas de ataques, raptos e assassínios.
Nos últimos dias, ataques atribuídos à Renamo na província de Sofala levaram as autoridades a montar dispositivos de escoltas militares obrigatórias a viaturas civis em dois troços da N1, a principal estrada do país.
A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo, que se encontra bloqueado há vários meses.
O Presidente Filipe Nyusi tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição e que só retomará o diálogo após a tomada de poder no centro e norte do país.