Finlândia é a única nação a nível mundial com uma primeira-ministra e quatro ministras. Ainda assim, desigualdade de género e racismo são problemas ainda por debelar.
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Marcaram a história da vida política na Finlândia ao fazer do atual Governo o único em todo o Mundo liderado por uma mulher e com outras quatro como ministras. Quebraram, portanto, barreiras na igualdade de género e ainda conseguiram eleger - fez na passada quinta-feira um ano - a mais jovem primeira-ministra do planeta, Sanna Marin, então com 34 anos. Todavia, e apesar dos marcos já conquistados, a representatividade e a igualdade ainda não se estendem a toda a população do país nórdico e, por isso, há ainda questões a pedir resposta. Uma delas, a que tem tido mais destaque, é o racismo, que ainda tem bastante expressão.
Segundo um relatório da Provedoria da Justiça para a não-discriminação, 63% dos afrodescendentes na Finlândia sofreram, nos últimos cinco anos, assédio racista. Dos 12 países europeus incluídos no documento, a Finlândia teve o pior resultado.
"O racismo e a discriminação são um sério problema social na Finlândia e devem ser identificados e reconhecidos de forma mais ampla do que são atualmente", lê-se no relatório.
Para Maria Ohisalo, ministra do Interior, ter "cinco mulheres brancas" no Governo acaba, no fundo, por não ser "muito representativo". "Se realmente olharmos para a igualdade, ainda não está à vista", disse, em entrevista à BBC. Ainda de acordo com o relatório, os atos discriminatórios ou de assédio ocorrem em público, instituições de ensino, locais de trabalho e candidaturas a emprego.
Representatividade
Além de estarem pouco representadas nas instituições governamentais, as minorias estão também pobremente presentes no cinema e na televisão. É o que revela o estudo da associação de Produtores de Audiovisuais Finlandeses, que indica que 90,6% das personagens são brancas, heterossexuais e sem qualquer deficiência.
Uma preocupação da União Europeia tem sido a falta de reconhecimento legal de género em pessoas transexuais e, no ano passado, recomendou "como questão prioritária" que a lei sobre aquele ato fosse alterada, "para eliminar o requisito de que as pessoas que procuram o reconhecimento devem ser inférteis ou esterilizadas como condição prévia para mudarem de género".
"Qualquer um deveria ter o direito de determinar a sua própria identidade. Não faz parte do meu trabalho identificar pessoas", disse Sanna Marin, que tem em mãos a tarefa de transformar a lei.
A Finlândia é, há décadas, pioneira em muitas matérias e tem assegurado o seu lugar no topo dos países europeus com melhores resultados na luta pela igualdade de género. Ainda assim, há muitas pontes a serem construídas para dar às minorias o destaque que estas cinco mulheres conseguiram.
Política
Primeiro país da Europa a adotar o sufrágio universal
Em 1906, o Eduskunta, Parlamento da Finlândia, adotou o sufrágio universal para todos os cidadãos com mais de 24 anos e as mulheres finlandesas tornaram-se as primeiras no Mundo a exercer, em pleno, os seus direitos políticos. No ano seguinte, em março, 19 mulheres foram eleitas para o Parlamento e foram as primeiras deputadas do planeta. No ano passado, foram eleitas para o hemiciclo 96 mulheres, o maior número de sempre.
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As quatro ministras
Quatro mulheres, eleitas há um ano, tomaram posse de vários ministérios. Katri Kulmuni, de 33 anos, ficou com a pasta das Finanças. Já Maria Ohisalo, de 35, lidera o Ministério do Interior. Li Andersson (32) assumiu a Educação e Anna-Maja Henriksson, de 55, a Justiça.
Decote polémico
Em outubro, Sanna Marin esteve no centro de uma luta contra a misoginia e o sexismo na política a propósito de uma fotografia em que usa um blazer "demasiado" decotado. A imagem gerou polémica e críticas, mas a onda de apoio à primeira-ministra foi visível e aniquilou o assunto.