Milhares de pessoas ocuparam este sábado a Avenida Pensilvânia, no centro de Washington, num grande protesto contra o rumo que Donald Trump está a dar aos Estados Unidos e que juntou música, dança e muitas críticas ao presidente norte-americano.
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O clima era de festa junto ao edifício do Departamento de Trabalho, onde centenas de pessoas, incluindo muitas crianças, dançavam ao som de Bad Bunny, o artista porto-riquenho que tem sido alvo de críticas de Donald Trump e da sua base de apoiantes desde que foi anunciado que irá atuar no intervalo do "Super Bowl".
Entre bolas de sabão e muita dança, podiam ler-se cartazes com frases como "não ao fascismo, não a reis, não a Trump".
O protesto em Washington é um dos mais de 2500 convocados por todo o país, em todos os 50 estados norte-americanos.
Intitulada "No Kings", esta mobilização nacional pacífica é um movimento de oposição às "garras autoritárias" de Donald Trump, indicou a organização, que acusa o magnata republicano de tentar agir como um rei.
"O Presidente acha que a sua regra é absoluta. Mas na América, não temos reis e não vamos recuar face ao caos, corrupção e crueldade", indicou a organização, apoiada por centenas de associações progressistas.
"Este país não pertence a reis, ditadores ou tiranos. Pertence às pessoas - a pessoas que se importam, que aparecem e aquelas que lutam por dignidade, uma vida que possam pagar e oportunidades reais. Sem Tronos. Sem Coroas. Sem Reis", acrescentou.
John, de 80 anos, e Tom, de 76, viajaram de propósito do Novo México, um estado no sudoeste dos Estados Unidos, para marcar presença na manifestação.
Vizinhos e ambos veteranos das forças armadas, disseram à Lusa que viajaram para Washington "para defenderem o país novamente", mas desta vez "da tirania de Donald Trump".
"Eu amo o meu país, lutei por este país há 40 anos, e sinto que preciso de continuar a lutar. A minha maior preocupação é que o atual Presidente parece querer ser um tirano, um ditador. Estamos a viver um período completamente sem precedentes na América e precisamos de travar isto", lamentou o octogenário.
"Precisamos de impedir que a atual situação vá mais longe ainda. Estamos a ver Donald Trump a enviar tropas da Guarda Nacional para várias cidades do país e isto é um abuso do uso do Exército", avaliou John.
Tom admitiu à Lusa estar particularmente preocupado com as alegadas tentativas de violação da Constituição norte-americana por parte do atual Governo e com a perda de direitos e liberdades.
"Como veterano de guerra, sinto que tenho o dever de me levantar e falar contra o que se está a passar, contra esta tirania. Donald Trump é um autocrata, não se preocupa com os nosso direitos, apenas se preocupa com ele próprio e com a própria família", defendeu.
Tom assumiu ainda que está preocupado com a imagem que o mundo tem hoje dos Estados Unidos, criticando as tarifas que Donald Trump tem aplicado à maioria dos países do mundo e a forma como o chefe de Estado "se acha superior em relação à comunidade internacional".
No meio da multidão que se deslocou à capital norte-americana foram erguidos cartazes em que se podia ler "Somos a resistência", Amo o meu país, odeio o que Trump está a fazer", "Os imigrantes não são inimigos do nosso país", "Os imigrantes são essenciais. Não à deportação" ou "Liberdade de expressão, sempre".
"Estou aqui para protestar contra a forma antidemocrática com que Donald Trump opera. Não vamos tolerar a tirania e estamos aqui para mostrar isso mesmo. Sei que o mundo olha para nós e acha que somos ridículos, que parecemos uns tolos e é realmente embaraçoso", disse à Lusa Josh, um residente de Washington, de 54 anos.
Josh é um dos milhares de funcionários públicos que foram suspensos devido à paralisação parcial do Governo Federal e que está sem salário há 18 dias.
Apesar de esta paralisação afetar diretamente as suas finanças pessoais, Josh diz que entende o bloqueio do orçamento que está a ser feito pelos democratas, avaliando que "as coisas não podem continuar da maneira que os republicanos e Donald Trump estão a conduzir".
No centro do impasse estão gastos com saúde.
Os democratas reivindicam o aumento de algumas verbas destinadas à saúde, enquanto os republicanos os acusam de tentar expandir os serviços de saúde para imigrantes indocumentados, algo que a oposição nega.
Esta é a terceira mobilização em massa desde o regresso de Trump à Casa Branca, em janeiro deste ano, e acontece num momento em que o atual executivo tem estado a testar o equilíbrio dos poderes, pressionando o Congresso e os Tribunais "em direção ao autoritarismo", segundo os manifestantes.