Co-piloto do avião que se despenhou no Nepal seguiu as pisadas do marido e morreu como ele
Anju Khatiwada estava na cabine do avião da Yeti Airlines, quando este se despenhou, no domingo, no Nepal, a cumprir o sonho que partilhava com o marido, que morreu num acidente de aviação, em 2006. Foi graças à tragédia que se abateu sobre a família que a mulher decidiu tornar-se piloto e seguir as pisadas do marido.
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Quando Anju Khatiwada decidiu enveredar pelo mundo da aviação, motivada a cumprir o sonho do marido, co-piloto que morreu num despiste aéreo ao comando de uma aeronave, não imaginou que teria o mesmo fim trágico que o seu primeiro grande amor, 16 anos depois.
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A co-piloto de 44 anos estava na cabine do avião 691 da Yeti Airlines, que viajava desde a capital Katmandu até a Pokhara, e que caiu durante a manobra de aproximação ao aeroporto. Pelo menos 70 pessoas morreram e duas continuam desaparecidas. Até ao momento, não foram encontrados sobreviventes. É o pior desastre aéreo do país desde 1992.
"Dipak Pokhrel [marido de Anju Khatiwada] morreu em 2006 num acidente de avião da Yeti Airlines, em Jumla", contou o porta-voz da companhia aérea, Sudarshan Bartaula, à agência Reuters. Viúva e com uma filha de seis anos a seu cargo, Anju deixou para trás a carreira de enfermeira e rumou aos Estados Unidos da América para aprender a pilotar aviões. "Ela teve a formação de piloto com o dinheiro que recebeu do seguro após a morte do marido", acrescentou.
"O pai da Anju pediu-lhe para não se tornar piloto", revelou Gopal Regmi, parente e amigo do pai da nepalesa, ao "The New York Times". "Mas depois da morte trágica do marido, ela estava determinada em fazê-lo". Em 2010 integrou a equipa da Yeti Airlines, a mesma do marido, e atualmente era uma das seis mulheres empregadas pela companhia aérea e acumulava já 6400 horas de voo. Anju voltou a encontrar o amor, casou e teve um segundo filho.
"Era uma mulher determinada, disposta a lutar pelos seus sonhos e pelos sonhos do marido", disse um membro da família à BBC.
Cerca de 350 pessoas morreram desde 2000 em acidentes de avião ou helicóptero no Nepal - onde estão oito das 14 montanhas mais altas do mundo, incluindo o Evereste - e onde as mudanças súbitas do tempo representam condições perigosas para viajar. No entanto, e segundo as autoridades locais, o tempo estava ameno e sem vento no domingo, dia em que o avião se despenhou. Ainda não são conhecidas as causas da tragédia.
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O desastre de domingo veio reacender a conversa sobre a segurança aérea ou falta dela no país asiático. A indústria aérea do Nepal cresceu nos últimos anos, transportando mercadorias e pessoas para áreas de difícil acesso, bem como caminhantes e alpinistas estrangeiros. No entanto, o setor tem tido problemas de segurança devido à falta de formação dos pilotos e manutenção dos aviões.
Desde 2013 que a União Europeia proíbe as companhias aéreas do Nepal de aceder ao espaço aéreo europeu, por razões de segurança.