Cofundador da Ben & Jerry's renuncia devido a crise de "valores" numa empresa "silenciada"
O cofundador da empresa dos gelados Ben & Jerry's renunciou após afirmar que a sua companhia, conhecida pelo ativismo social, perdeu "a independência para seguir" os seus "valores" sob a propriedade da gigante britânica Unilever.
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O anúncio de Jerry Greenfield acontece depois do fracasso da empresa em 2022 em impedir que a Unilever vendesse os seus gelados em assentamentos judaicos na Cisjordânia, o que, segundo a Ben & Jerry's, contrariaria os seus valores. Greenfield afirmou que "não podia, com plena consciência, e após 47 anos, continuar a ser um empregado" da empresa com sede em Vermont, segundo um comunicado publicado no X pelo cofundador Ben Cohen na noite de terça-feira.
A marca foi fundada pelos dois amigos de escola em 1978 e adquirida pela Unilever em 2000. Agora pertence à Magnum Ice Cream Company, uma subsidiária do conglomerado britânico.
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Greenfield disse que a sua empresa "foi silenciada, marginalizada por medo de incomodar aqueles que estão no poder" no momento em que o governo dos Estados Unidos está "a atacar os direitos civis, os direitos de voto, os direitos dos imigrantes, das mulheres e da comunidade LGBTQ". "É profundamente dececionante chegar à conclusão de que essa independência, a própria base da nossa venda para a Unilever, foi perdida", acrescentou.
Um porta-voz da Magnum apontou que a empresa continua comprometida com a missão e o legado da Ben & Jerry's. "Não concordamos com a perspetiva de (Greenfield) e procuramos envolver ambos os cofundadores numa conversa construtiva sobre como fortalecer a posição poderosa baseada em valores da Ben & Jerry's no Mundo", manifestou o porta-voz.
Em maio, Cohen, de 74 anos, foi retirado de uma audiência no Senado americano após gritar que "o Congresso paga bombas para matar crianças em Gaza", assustando o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr. Crítico de longa data da política israelita, Cohen juntou a figuras judaicas proeminentes no ano passado numa carta aberta de oposição ao lóbi pró-Israel American Israel Public Affairs Committee (AIPAC).
A Unilever está em processo de separar a Magnum, que deve iniciar as suas operações independentes em meados de novembro.