A menos de um mês para as eleições, o presidente turco enfrenta o maior desafio para manter domínio sobre sistema político contestado.
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Recep Tayyip Erdogan tem menos de um mês para tentar reverter o cenário desfavorável das sondagens, que colocam o líder da oposição composta por seis partidos, Kemal Kilicdaroglu, como favorito às eleições presidenciais. O escrutínio de 14 de maio, que ocorrerá durante uma profunda crise económica e humanitária, será um questionamento à reforma constitucional que conferiu poderes acumulados ao atual presidente turco.
Erdogan quer continuar à frente do Governo após tê-lo comandado em 16 dos últimos 20 anos. O líder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco) foi primeiro-ministro entre 2003 e 2014 e, quando assumiu a presidência em 2014, tornou-se chefe de Estado. O cargo de primeiro-ministro, no entanto, foi extinto em 2018, após a aprovação num referendo constitucional promovido pelo AKP - criado em resposta à tentativa de golpe de Estado promovida por alas militares, em 2016. Tal reforma veio permitir que Erdogan acumulasse poderes na figura de presidente e que concorresse pela terceira vez.
O combate a estas mudanças na Constituição turca é o que une a Aliança Nacional ou Mesa dos Seis, coligação de meia dúzia de partidos de oposição a Erdogan que inclui dois dissidentes do AKP. A coligação-tábula, com peças do jogo político que vão do centro-esquerda à Direita nacionalista, promete voltar ao modelo parlamentar, com o presidente apenas chefe de Estado a ter um mandato de sete anos, em vez da possibilidade atual de dois de cinco anos.
O candidato da Mesa dos Seis será o social-democrata Kemal Kilicdaroglu, líder do Partido Republicano do Povo (CHP), de viés secular, favorável à entrada da Turquia na União Europeia e à restauração das relações com os Estados Unidos, o que pode ser uma luz para a adesão da Suécia à NATO, atualmente bloqueada por Ancara. O economista à frente da Aliança Nacional é ainda apoiado de forma não oficial pelo Partido Democrático dos Povos (HDP), aliado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), perseguido por Erdogan.
custo de vida e terramotos
A inflação anual da Turquia chegou aos 85% em outubro, recorde em 24 anos, após o presidente ter exortado o Banco Central turco a diminuir a taxa de juros, pedido que foi atendido. Apesar da queda do índice oficial para os 50% em março, o grupo de investigação independente ENAG aponta uma inflação acima de 112% nos últimos 12 meses. Tanto Erdogan como Kilicdaroglu prometem números abaixo dos dois dígitos.
Ancara anunciou, a 29 de março, uma redução de 15% nos preços da eletricidade e de 20% no gás para uso industrial, além do aumento do salário mínimo no verão, segundo o jornal pró-AKP "Daily Sabah". Apesar da manobra, um dos fatores para o aumento do custo de vida no país continua incontornável: a lira turca está no menor valor histórico em relação ao dólar. Quando Erdogan assumiu a presidência, em 2014, a moeda dos EUA valia 2,15 liras, hoje um dólar equivale a 19,36 liras.
O Governo é alvo de críticas por não ter aplicado a regulação antis-sismos para as construções e pela resposta dada aos dois terramotos de 6 de fevereiro, que mataram mais de 50 mil pessoas na Turquia e na Síria. Os tremores deslocaram 3,3 milhões de pessoas no país, estima a Organização Mundial da Saúde, que menciona a dificuldade de acesso aos tratamentos primários nas regiões atingidas.