Presidente francês tem deixado a corrida eleitoral francesa para segundo plano. Extrema-direita continua a ensombrar o líder.
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O prazo está a esgotar-se e Emmanuel Macron, presidente de França, ainda não informou o eleitorado sobre a intenção de se recandidatar ao Palácio do Eliseu. O anúncio pode surgir a qualquer momento, uma vez que o prazo para o efeito termina na próxima sexta-feira. Para o dia seguinte, o líder francês tinha marcado o seu primeiro ato oficial, em Marselha, mas de acordo com o jornal "Le Monde", o evento será adiado, já que o presidente temestado focado na mediação do conflito no Leste da Europa.
As sondagens mais recentes mostram que Macron está em vantagem para agarrar um segundo mandato, porém continua a ser ensombrado pela evolução do populismo, tendo como principais adversários dois candidatos de extrema-direita: Marine Le Pen, que está na corrida eleitoral pela terceira vez, e um recém-chegado, Éric Zemmour, que se demarca pelo discurso nacionalista.
No quadro internacional, Macron não tem tido mãos a medir, e o seu foco tem estado no seio da União Europeia (UE). Primeiro porque, até junho, é a França que está nos comandos da Presidência da UE, e segundo, porque o líder do país tem sido um importante peão diplomático num momento de conflito entre Kiev e Moscovo.
Ainda assim, o presidente mostra-se tranquilo, até porque a sua popularidade entre o eleitorado francês está em níveis que o deixam numa posição confortável. "Tem, segundo as sondagens disponíveis, um sólido núcleo de eleitores fiéis, no essencial o eleitorado republicano moderado, mais o eleitorado bonapartista", refere Carlos Eduardo Gaspar, do Instituto Português de Relações Internacionais. O especialista defende ainda que "a reeleição de Macron é essencial para garantir um quadro mínimo de estabilidade na política europeia", sobretudo num momento tão sensível como este.
Macron certamente chegará à segunda volta das eleições, que se realizam no dia 24 de abril. O confronto, sugerem as sondagens, deverá ser feito contra Marine Le Pen, que em 2017 foi derrotada na segunda volta com 66% dos votos a favor do atual presidente. A candidata teve, durante os últimos meses, dificuldade em angariar as 500 assinaturas de deputados, senadores, presidentes de câmara ou conselheiros regionais para avançar com a candidatura oficial, mas espera-se que até sexta-feira as consiga reunir.
Invasão russa é questão-chave
A corrida eleitoral francesa conheceu este ano um novo candidato que se tem revelado de peso. Eric Zemmour, ex-jornalista que criou o partido Reconquista, está imediatamente a seguir a Le Pen nas sondagens, esperando-se que ocupe o terceiro lugar na lista de resultados da primeira volta, marcada para dia 10 de abril. O candidato de extrema-direita, que tem o apoio de Donald Trump, ex-presidente dos EUA, tem optado por um discurso racista e xenófobo, tendo beneficiado do apoio de muitas figuras que deixaram de apoiar Le Pen.
Valérie Pécresse, do partido de direita Os Republicanos, tem feito algumas críticas a Emmanuel Macron, mas o seu principal objetivo durante a campanha eleitoral será resgatar votos que poderiam cair sobre Le Pen e Zemmmour. "Não precisamos de ser extremistas para estarmos ao ataque, não é preciso insultar para convencer", disse no momento em que formalizou a candidatura à presidência, em dezembro do ano passado. No entanto, não se espera que saia triunfante destas eleições.
A fragmentação política em França espelha-se à direita, mas não só. À esquerda também há uma competição pelos votos dos gauleses, mas o eleitorado mostra-se pouco convencido. Anne Hidalgo, presidente da Câmara Municipal de Paris e candidata do PS, está cada vez mais longe de alcançar a meta, sendo que as sondagens lhe cerca de 2% das intenções de voto. Já Christine Taubira, antiga ministra da Justiça, também não deverá conseguir mais do que 4% dos votos. Na ala esquerda, Jean-Luc Mélenchon é o mais bem colocado, esperando-se que alcance 9% dos votos.
Recentemente, a invasão russa tornou-se uma questão-chave no debate político em França. A maioria dos candidatos mostram-se abertos à receção de refugiados ucranianos no país, sendo que apenas Éric Zemmour refere que "a chegada de refugiados corre o risco de desestabilizar a França, que já está submersa pela imigração", reiterou esta segunda-feira.