Lula da Silva criticou, esta quinta-feira, o uso do dólar no comércio internacional e defendeu uma nova moeda entre os membros dos BRICS, grupo de países com economias emergentes. O chefe de Estado brasileiro participou, em Xangai, na posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), visto como alternativa ao FMI.
Corpo do artigo
"Por que não podemos fazer comércio lastreado na nossa moeda? Por que não podemos ter o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que o ouro desapareceu como paridade?", questionou Lula da Silva, citado pelo jornal "O Globo", durante a cerimónia de posse de Dilma Rousseff como presidente do NBD.
A instituição criada pelos BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), criticado por Lula. O chefe de Estado sugeriu ainda uma nova moeda para o comércio entre o Brasil e a China e entre os membros dos BRICS.
"Pela primeira vez, um banco de desenvolvimento de alcance global é estabelecido sem a participação dos países desenvolvidos na sua fase inicial, estando, assim, livre das amarras das condicionalidades impostas pelas instituições tradicionais às economias emergentes", afirmou Lula.
A retórica foi similar ao discurso de Dilma Rousseff, que salientou a "grande oportunidade de fazer mais para os países dos BRICS", "mas também para os países emergentes e em desenvolvimento" sem que haja "condicionantes". Economista de formação, a ex-presidente brasileira vai liderar a instituição sediada em Xangai até julho de 2025.
Desde a fundação do Novo Banco de Desenvolvimento pelos BRICS, em 2014, outros países tornaram-se membros, nomeadamente, Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai.
Investimentos chineses no Brasil
O dia caracterizado pelo "tom de desafio à hegemonia dos Estados Unidos", como definiu o "O Globo", incluiu também uma visita do presidente brasileiro à fábrica tecnológica chinesa Huawei. "A empresa fez uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade", disse Lula da Silva no Twitter.
Visitei o centro de desenvolvimento de tecnologias da Huawei. A empresa fez uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade. Um investimento muito forte em pesquisa e inovação.
- Lula (@LulaOficial) April 13, 2023
: @ricardostuckert pic.twitter.com/d3AHmcda1U
O chefe de Estado reuniu-se ainda com o diretor-executivo (CEO) da fabricante de veículos elétricos BYD. A empresa chinesa está em negociações para assumir as instalações em Camaçari da norte-americana Ford, que deixou de produzir carros no Brasil em 2021. O governador do estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues, garantiu que os Governos estadual e federal vão oferecer incentivos fiscais.
Guerra na Ucrânia
Lula viaja para Pequim na noite desta quinta-feira (tarde em Portugal) para uma série de reuniões e eventos na capital chinesa. O compromisso mais esperado será o encontro com o presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping. Os chefes de Estado deverão abordar a guerra na Ucrânia, pois ambos os países, que não aplicaram sanções à Rússia, querem assumir uma posição de mediação do conflito.
O presidente brasileiro disse, a 6 de abril, estar esperançoso na criação de um grupo para a discussão da paz ao regressar da China. A proposta do Brasil é vista "com bons olhos" pelo Governo português, nas palavras da ministra da Defesa. Ao ser questionada sobre as divergências com o país sul-americano, Helena Carreiras salientou a busca comum por "uma paz justa", citando o facto de o Brasil ter sido o único país dos BRICS a condenar a invasão pela Rússia.