Primeiro dia de trabalho de deputados e senadores para averiguar ataques a Brasília foi marcado por tom elevado nas discussões e eleição das lideranças
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A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará os ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, a 8 de janeiro, iniciou esta quinta-feira os trabalhos. O grupo de 32 congressistas, composto por uma maioria aliada do Governo, elegeu o deputado Arthur Maia como presidente da CPMI e a senadora Eliziane Gama como relatora. A comissão reunir-se-á às quinta-feiras e poderá durar até seis meses.
O presidente da CPMI é do União Brasil, partido que, mesmo com três pastas na Esplanada dos Ministérios, divergiu do Palácio do Planalto em diversas votações. Maia é aliado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o principal líder do chamado "Centrão". Tal bancada é essencial para que o Governo de Lula da Silva consiga aprovar projetos no Congresso Nacional.
Na primeira reunião da comissão, Maia defendeu ser "razoável" uma investigação feita pelos parlamentares. "Sabemos que há uma narrativa de que tudo que aconteceu está envolvido em uma orquestração maior de um possível golpe para interromper a democracia no Brasil. Isso tem que ser investigado, não pode passar em branco", disse o presidente da CPMI, citado pelo portal "G1".
A relatora Eliziane Gama, do Partido Social Democrático, é aliada do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. "Houve uma tentativa de golpe, mas não conseguiram um golpe. Queremos garantir, no Brasil, a democracia cada vez mais forte e firme", afirmou a senadora, citada também pelo portal da Globo.
Gama não descartou a possibilidade de chamar Jair Bolsonaro para depor na comissão. A relatora foi alvo de ataques do senador Marcos do Val, que a acusou de ser "parcial" por causa da proximidade com o ministro da Justiça. Após a elevação no tom das discussões, os trabalhos da CPMI prosseguiram.
Oposição nega golpe
Congressistas bolsonaristas negaram que os atos foram uma tentativa de golpe e defenderam os participantes. "Não vamos rotular essas pessoas de terroristas", disse o deputado e pastor Marco Feliciano, citado pelo diário "O Globo". O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, afirmou haver "relatos" de infiltrados de Esquerda.
A proposta de uma CPMI, apresentada por bolsonaristas logo após o 8 de janeiro, não era bem vista pelo Planalto, já que as investigações continuam na Polícia Federal e uma comissão poderia criar palco a teorias da conspiração, como a alegada participação de apoiantes do Governo na invasão, facto nunca comprovado.
Ministérios do Meio Ambiente e Povos Indígenas perdem peso
Com aval do Governo, uma comissão no Congresso aprovou, na quarta-feira, uma reestruturação ministerial. A pasta do Meio Ambiente, da ministra Marina Silva, perdeu as gestões do Cadastro Ambiental Rural - registo obrigatório de imóveis rurais cujos dados ajudam no combate ao desmatamento - e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - que lida com a regulação dos serviços públicos de irrigação e a fiscalização de barragens. O Ministério dos Povos Indígenas, liderado por Sônia Guajajara, perdeu a gestão para demarcar as terras indígenas.