Semanas antes de o presidente norte-americano ter ordenado o ataque à casa onde se escondia o líder da al-Qaeda, quatro advogados discutiram a legalidade de todas as escolhas que os SEAL teriam de fazer. E concluíram que a morte seria melhor opção do que uma captura.
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Em maio de 2011, noticiou esta quarta-feira o New York Times, só uma pequena elite sabia que Obama estava a preparar a operação militar que levou a Marinha norte-americana a uma casa em Abbottabad, uma cidade no nordeste do Paquistão. Entre eles estavam quatro advogados de direito administrativo, que trabalharam sob o mais estrito sigilo, obrigados a fazer a sua própria pesquisa, usando computadores portáteis de máxima segurança e proibidos de trocar mensagens entre si, exceto através de bilhetes manuscritos, usando mensageiros de confiança. O segredo era total. Nem o Procurador Geral da República estava a par dos planos.
Foi assim que, dias antes da operação, montaram uma defesa legal, à luz do direito internacional, para proteger Barack Obama das consequências da operação e justificar quatro decisões: um assalto militar em território paquistanês sem que as autoridades locais soubessem; a informação ao Congresso só depois de terminada a operação; o uso de força letal decidido à partida; e o enterro de bin Laden no mar.
Em cima da mesa estiveram inúmeras hipóteses, avança o jornal nova-iorquino. Uma passava por levar bin Laden para a prisão de Guantanamo, em Cuba, o que implicaria quebrar uma promessa do presidente norte-americano. Outra dizia haver justificação legal para bombardear a casa em Abbottabad de forma a destruir até eventuais túneis, apesar da expectável morte de inúmeros inocentes e de ser, depois, praticamente impossível confirmar a morte do líder da al-Qaeda. Admitiu-se também informar o governo do Paquistão, mas a possibilidade de as Forças Armadas paquistanesas serem coniventes com bin Laden levantou o receio de que o avisassem.
Foi decidido, então, que a operação seria mantida secreta tanto do Paquistão quanto do Congresso. E quanto a bin Laden, era legítimo avançar para a operação com ordens para matar? E se ele se rendesse? A lei da guerra manda aceitar uma rendição, se tal for possível - uma obrigação difícil de cumprir, quando se espera que o outro lado responda com violência, como era o caso. A hipótese de capturar bin Laden e levá-lo para bordo de um navio da Armada chegou a ser levantada, mas era dada como tão remota nunca chegou a ser discutida em profundidade: uma vez chegado ao navio, logo se decidiria o que fazer. A morte de bin Laden durante o assalto era, portanto, dada como a única hipótese em cima da mesa.
A última grande decisão seria o destino a dar ao corpo do líder da al-Qaeda. Até que ponto era justificável "enterrá-lo" no mar, para evitar criar um local de peregrinação? A Convenção de Genebra diz que o funeral dos militares mortos em combate deve seguir a sua convicção religiosa. No caso dos muçulmanos, um enterro rápido, voltado para Meca, numa sepultura identificada. Contudo, a recomendação escrita pelos advogados encontrou uma exceção prevista na tradição muçulmana: é permitido um "enterro" no mar, quando a pessoa morre em viagem. Foi esta a opção seguida, depois de a Arábia Saudita, país natal do terrorista, ter dito não querer ficar com o corpo.