A embaixada da Rússia na Coreia do Norte anunciou, esta quinta-feira, uma "saída coletiva" dos funcionários do país, devido às "condições insuportáveis" de carência alimentar e bens de primeira necessidade que se sente no território.
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A embaixada russa informou que o pessoal diplomático ia abandonar Pyongyang, capital da Coreia do Norte, tendo em conta a escassez de bens de primeira necessidade, como comida e medicamentos.
As condições de vida na Coreia do Norte ficaram especialmente difíceis, depois de terem sido impostas medidas rigorosas para combater a pandemia de covid-19. O Estado totalitário - que não confirmou um único caso do vírus (embora analistas acreditem que poderá ter havido surtos no exército e em cidades fronteiriças) - fechou as fronteiras e encerrou cidades inteiras com o objetivo de evitar a pandemia.
No âmbito do programa Covax, da Organização Mundial de Saúde, que fornece vacinas a países em desenvolvimento, a Coreia do Norte vai receber 1,7 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
"É possível compreender aqueles que deixam a capital coreana. Dificilmente alguém consegue suportar estas restrições sem precedentes [sobre indivíduos], a forte carência de bens essenciais, incluindo medicamentos, e a incapacidade de resolver qualquer problema de saúde", escreveram os membros da embaixada russa, numa publicação no Facebook.
A Rússia tem uma forte presença diplomática na Coreia do Norte. No entanto, as restrições da pandemia começaram a afastar os dois países. Em fevereiro, alguns diplomatas russos e respetivas famílias viajaram durante 32 horas para conseguir chegar até à fronteira russa. Na nota publicada online, a embaixada garantiu que "quase não restam diplomatas" em Pyongyang, tendo ficado apenas 290 profissionais no país. Na semana passada foi a vez de a ONU revelar que todos os funcionários humanitários tinham abandonado o território coreano.
Cenário de "fome e fadiga"
As fronteiras da Coreia do Norte encerraram prontamente em janeiro de 2020, fazendo desta, provavelmente, a quarentena mais rigorosa do mundo. Os analistas admitem que estas medidas permitiram ao governo aumentar o controlo sobre os coreanos para níveis semelhantes aos dos "anos de fome" na década de 90.
Ainda que pouca informação chegue do país, que se encontra sob sanções internacionais por causa do seu programa nuclear e mísseis balísticos, há indícios de escassez de alimentos e de uma crise cada vez mais profunda. Segundo o jornal britânico "The Guardian", na semana passada, seis guardas fronteiriços norte-coreanos desertaram para a China, descrevendo um cenário de "fome e fadiga".
Um relatório da organização de defesa de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) revelou, no mês passado, que a Coreia do Norte enfrenta uma forte carência de alimentos, sabão, pasta de dentes e pilhas. O comércio norte-coreano com a China caiu cerca de 80%, com as importações de alimentos e medicamentos a cair para perto de zero no ano passado, uma vez que o governo alegou que a troca de mercadorias poderia levar à propagação do coronavírus.
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