Congresso dos EUA debate ovnis: "O que enfrentamos é muito superior ao que temos"
A Câmara baixa dos Estados Unidos dedicou uma audiência a supostos avistamentos aéreos por parte de elementos da Marinha e da Força Aérea. O comité contou com a audição de três antigos oficiais, que coincidiram em credibilizar os relatos e apelar à criação de canais para denúncias.
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Provando que os misteriosos avistamentos aéreos que há décadas são tema tabu entre a Marinha e a Força Aérea norte-americanas merecem escrutínio aos mais altos níveis do Governo dos Estados Unidos, a Câmara dos Representantes convocou, na quarta-feira, um comité histórico sobre os chamados "fenómenos anómalos não identificados", coloquialmente conhecidos como ovnis (objetos voadores não identificados). Da audiência, não saiu nenhuma bomba nem confirmação de vida alienígena, mas o facto de a câmara baixa do Congresso ter dedicado um painel ao tema é, por si só, assinalável.
Ao longo de duas horas, três testemunhas partilharam os seus supostos encontros com objetos voadores desconhecidos e contaram sobre pilotos com medo de falar, material biológico recuperado de embarcações e supostas retaliações contra denunciantes. E, apesar do apelo do republicano Tim Burchett no início da reunião - "não estamos a falar de homenzinhos verdes ou discos voadores, vamos apenas cingir-nos aos factos" -, às vezes os depoimentos desviaram-se para o desconhecido. Os três antigos altos funcionários da Marinha e Força Aérea reconheceram que os fenómenos em causa são uma potencial ameaça à segurança nacional.
David Grusch, ex-oficial dos serviços de informação dos Estados Unidos, testemunhou crer "absolutamente" que o Governo sabe da existência de evidências acerca de operações "não humanas" (prefere usar esse termo em vez de "extraterrestres" ou "alienígenas") e deu a entender que altos funcionários do Governo haviam suprimido informações recebidas e punido aquilo a que chamou de denunciantes.
"Nós não estamos sozinhos e as autoridades dos Estados Unidos estão a esconder evidências", declarou Grusch, acusando Washington de esconder um programa secreto de há várias décadas - sobre o qual diz ter sido informado durante o exercício das suas funções oficiais - que recupera e faz engenharia reversa de objetos voadores não identificados. "Com base nos dados que recolhi, tomei a decisão de relatar essa informação aos meus superiores e a vários membros da inspeção geral, tornando-me num denunciante", explicou.
David Grusch acusou o Governo norte-americano de ocultar informações sobre ovnis não apenas do público, mas também do Congresso, alegando ter entrevistado pessoalmente pessoas com conhecimento direto sobre fenómenos desconhecidos. "O meu depoimento é baseado em informações que tenho vindo a receber de pessoas com uma longa trajetória de legitimidade e serviço a este país, muitas das quais partilham evidências convincentes, como fotografias, documentação oficial e depoimentos orais classificados", disse aos legisladores. Pressionado para detalhar a informação que disse saber durante a audiência, o ex-funcionário dos serviços de informação norte-americanos reiterou várias vezes que não poderia fazer comentários acerca do assunto num espaço público, devido à classificação sigilosa das informações.
Alguns legisladores e testemunhas pressionaram o Governo federal a estabelecer canais claros para que os militares possam comunicar avistamentos de objetos não identificados, tendo em conta que a Administração Federal de Aviação não dispõe de nenhum mecanismo para que os pilotos façam denúncias destes casos.
Ryan Graves, ex-piloto da Marinha e a terceira das três testemunhas ontem ouvidas na Câmara dos Representantes, disse ao painel que os pilotos não se sentem adequadamente informados sobre os fenómenos em causa, o que, apontou, os deixa despreparados para eventuais observações. E garantiu que pilotos de linhas aéreas comerciais também detetaram ovnis.
Algumas testemunhas e legisladores no comité argumentaram que o estigma associado ao relato de avistamentos de ovnis - bem como o suposto assédio daqueles que os investigam - pode estar a dificultar os esforços para determinar as suas origens. Graves disse que esse tabu "silencia" os pilotos, que temem "repercussões profissionais" e receiam ser descredibilizados.
Pentágono tem programa secreto para investigar ovnis
O tema dos avistamentos de objetos não identificados tem merecido mais atenção governamental nos últimos anos. Em 2017, a questão veio à tona quando o "The New York Times" noticiou a existência de um programa secreto do Pentágono para investigar esses fenómenos aéreos, tendo publicado vários vídeos que mostravam alegados encontros com ovnis.
Questionado sobre a existência de vida além da Terra, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que não possui uma posição definitiva sobre o assunto: "O que acreditamos é que existem fenómenos aéreos inexplicados que foram relatados por pilotos da Marinha e da Força Aérea. Mas não temos respostas sobre o que são esses fenómenos."
Sean Kirkpatrick, chefe do gabinete do Pentágono criado para identificar os objetos não identificados que representam potenciais ameaças, informou os legisladores, em abril, de que não tinham sido encontradas "evidências críveis de atividade extraterrestre, tecnologia de fora deste mundo ou objetos que desafiem as leis conhecidas da física".
A NASA realizou a sua primeira reunião pública sobre o assunto em maio e instou a abordagem científica mais rigorosa para esclarecer a origem de centenas de avistamentos misteriosos.