Projeto que empresa espanhola Iberdrola pretende instalar na serra do Larouco pode destruir um dos locais mais cobiçados para a prática de voo livre na Península Ibérica.
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A linha de alta tensão que a Iberdrola Renovables quer construir no parque eólico de San Martiño, no concelho espanhol de Baltar, em Ourense, na fronteira com Montalegre, Portugal, vai impossibilitar a prática de parapente na serra do Larouco. O alerta consta de um documento, que o JN consultou, elaborado pela Federação Portuguesa de Voo Livre (FPVL), pela Real Federação Aeronáutica Espanhola, pela Federação Aeronáutica Galega e pela Associação Espanhola de Voo Livre.
Nas alegações apresentadas contra o projeto, que esteve em discussão pública até dia 13, as quatro entidades referem que não foram considerados "os efeitos" e o "impacto" que os traçados propostos terão nas atividades desportivas de voo livre, que se realizam há décadas no Larouco, reconhecido internacionalmente por ser palco de competições desportivas organizadas pelos dois países ibéricos.
"Linhas de alta tensão são obstáculos incompatíveis com o voo livre em termos de segurança porque, tal como as aves, há um alto risco de colisão e eletrocussão do piloto", lê-se no documento que aponta ainda "insuficiências" ao Estudo de Impacto Ambiental.
A construção da linha, que terá 11 quilómetros e 42 torres, "algumas com mais de 40 metros de altitude", referem, criará um obstáculo entre a área de descolagem e a aterragem.
"A serra do Larouco, pela ligação que tem com a prática desportiva, atrai anualmente centenas de praticantes e acompanhantes para a realização dessas atividades, bem como espectadores que vêm assistir às diferentes competições que acontecem", adianta ao JN Eugénio de Almeida, vice-presidente da FPVL, prevendo o impacto que a construção terá no turismo da região.
Já o selecionador nacional de parapente, Luís Miguel Matos, diz que "nunca mais se vai conseguir voar com a mínima segurança" para o lado espanhol, a norte. "Os ventos de sul, em Portugal, têm mais turbulência. Não é a melhor orientação para as atividades de escola, para os primeiros voos", esclarece, lembrando que o local recebe escolas de toda a Península para a formação de pilotos.
Desconhecimento
No concelho de Baltar, a população só tomou conhecimento do projeto através da Plataforma Stop Eólicos, que tem sido uma das vozes mais críticas contra os megaparques na Galiza. "São projetos complexos. Muitos saíram para consulta pública com o Natal e o Ano Novo pelo meio", critica Erik Dobaño, um dos membros, sugerindo que a informação tem sido escondida da população. "O que está a acontecer é uma invasão eólica nas zonas rurais. Nas cidades, não há contestação", alega o ativista, frisando que naquela zona raiana estão previstos mais dois parques eólicos: Mistral e Tramontana.
Enrique Cuquejo mostra-se convicto de que será possível travar o projeto, referindo que há alternativas. "Na reunião que tivemos, a empresa disse-nos que estava disponível para apresentar um novo traçado. Não estavam à espera que houvesse tanta contestação", afirma o vice-presidente do único clube de parapente local.
O autarca de Baltar, José Antonio Feijóo, admitiu que a solução poderá passar pelo soterramento da linha. A Iberdrola não respondeu às questões do JN.
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