
Foto: Eyad Baba/AFP
A controversa Fundação Humanitária de Gaza (FHG), organização sediada nos Estados Unidos e encarregada por Israel de distribuir alimentos na Faixa de Gaza, anunciou hoje o encerramento das suas operações no enclave palestiniano.
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"A Fundação Humanitária de Gaza anuncia hoje a conclusão com sucesso da sua missão de emergência", afirmou a organização em comunicado, no qual referiu que as suas atividades ajudaram "a lançar as bases para o cessar-fogo" entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, em vigor desde 10 de outubro.
A FHG é uma organização sem fins lucrativos composta por ex-militares norte-americanos, empresas de segurança privada e trabalhadores humanitários, que Israel encarregou das operações de ajuda humanitária no território, com o objetivo de que esta não caísse nas mãos do Hamas.
Segundo as Nações Unidas, que até ao cessar-fogo foram afastadas das suas atividades no enclave palestiniano, a FHG não operava de acordo com os princípios do direito internacional humanitário e os seus métodos resultaram em centenas de mortes.
Desde que a organização chegou à Faixa de Gaza, com três centros de operações no sul e outro no centro do território -- substituindo 200 pontos da ONU -- a distribuição rapidamente se transformou num caos, com os habitantes a aglomerarem-se nas instalações para obter alimentos, tornando-se frequentes cenas de violência ao serem repelidos.
A FHG não conseguiu satisfazer as necessidades dos palestinianos, o que levou à declaração de fome no verão por parte de um comité de peritos da ONU.
A organização divulgou também hoje um relatório do impacto do trabalho desenvolvido no enclave que, apesar dos episódios de desespero e morte nos centros de distribuição, descreveu como positivo e que superou os resultados anteriormente registados.
"Em resposta ao apelo do Presidente [norte-americano] Donald Trump para que a ajuda chegasse diretamente à população de Gaza, a FHG construiu um novo modelo a partir do zero: instalações seguras, pessoal local verificado, operações disciplinadas e entrega direta aos civis sem interferência do Hamas ou de outros atores", sustentou.
Segundo os seus cálculos, no final de maio, a FHG distribuiu mais de três milhões de caixas de alimentos, totalizando 187 milhões de refeições, além de mais de 5600 toneladas de batatas e 1300 toneladas de cebolas, bem como 1,1 milhões de suplementos a crianças subnutridas.
No entanto, como surgiu como um substituto do trabalho humanitário realizado pelas Nações Unidas, que o Governo israelita acusou repetidamente de conluio com militantes do Hamas, não existe uma forma transparente de verificar os dados fornecidos.
A FHG reconheceu no seu comunicado de hoje que chegou como uma "iniciativa temporária" e que tinha "planos de expansão para mais centros", mas que decidiu suspender as suas operações em meados de outubro, após o último cessar-fogo, que coincidiu com a devolução das tarefas humanitárias às agências da ONU.
Em dois anos de conflito mais de 2100 palestinianos morreram enquanto procuravam ajuda humanitária, incluindo aqueles que estavam perto dos centros da FHG ou a caminho dos mesmos, segundo as Nações Unidas.
"Com a criação do Centro de Coordenação Civil-Militar para Gaza e um renovado compromisso da comunidade humanitária internacional, a organização acredita que chegou o momento de encerrar as suas operações", concluiu o diretor executivo da FHG, John Acree, citado no comunicado.
Apesar do cessar-fogo, as dificuldades persistem, com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) a informar no sábado, na sua última atualização sobre a situação no território, que nesse dia "todas as missões da ONU destinadas a recolher carregamentos de ajuda na passagem [fronteiriça] de Kerem Shalom viram o acesso negado".
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 69 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais controladas pelo grupo islamita, a destruição de quase todas as infraestruturas do território, um desastre humanitário e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
