António Guterres disse "basta" num discurso muito duro perante líderes mundiais na cimeira do clima na Escócia.
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"Acho que não devia fazê-lo, mas peço desculpa pelo facto de a última administração dos Estados Unidos nos ter tirado do acordo de Paris. Pôs-nos em risco". A frase do dia desta segunda-feira da COP26, a 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas, foi de Joe Biden, o presidente norte-americano que pediu desculpa ao Mundo pelas ações do seu antecessor, Donald Trump.
Da China veio um discurso vago e sem promessas. A COP26 junta mais de 120 líderes políticos em Glasgow, na Escócia, até ao próximo dia 12 de novembro.
O líder norte-americano foi um dos primeiros a falar e prometeu "investimentos históricos em energia limpa", ao mesmo tempo que anunciou metas ambiciosas que pretendem mostrar que os Estados Unidos não estão só a regressar à mesa das negociações. Querem "liderar com o poder do exemplo", prometeu Biden, anunciando o compromisso de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa entre 50% e 52% até 2030. O objetivo é atingir a neutralidade carbónica até 2050 (a meta da União Europeia também é 2050). Este é, para já, o compromisso mais significativo da cimeira, uma vez que os Estados Unidos são o segundo maior consumidor de fontes de energia primária, como petróleo ou carvão, em todo o Mundo.
MAIOR POLUIDOR
Apesar de ter o dobro do consumo de energia primária dos Estados Unidos, a China não se fez representar pelo presidente Xi Jinping, que enviou uma declaração quase irónica em que pediu "união na transição climática".
Na semana passada, a China prometeu à ONU que atingiria o pico das emissões antes de 2030 e a neutralidade carbónica até 2060. No entanto, as ações não condizem com as palavras e esperava-se uma justificação para as mais de 230 centrais elétricas a carvão que a China está a construir.
"CAMINHO DA CATÁSTROFE"
Por sua vez, o secretário-geral da ONU, António Guterres, endureceu o discurso: "É hora de dizer basta. Basta de brutalizar a biodiversidade, basta de nos matarmos com carbono, basta de tratar a natureza como uma latrina e de cavarmos a nossa própria sepultura".
O português apelou ao "fim do vício em combustíveis fósseis" e alertou para a "ilusão" de que o planeta está a ganhar o combate, uma vez que se prevê que o aquecimento global no final deste século seja de 2,7 ºC e não de 1,5 ºC, como foi definido no Acordo de Paris em 2015. António Guterres frisou que "estamos a caminho de uma catástrofe" e anunciou que vai reunir um grupo de especialistas para medir e analisar o compromisso de descarbonização de entidades não estatais.
Outra das discussões mais acesas prende-se com a falta de financiamento dos países pobres, que deveriam estar já a receber 100 mil milhões de dólares por ano dos países ricos. Contudo, essa meta só vai ser alcançada em 2023. A presidente da Comissão Europeia prometeu subir de 27 para 32 mil milhões de dólares o esforço da União Europeia.>
CIMEIRA
Líderes do G20 não conseguem acordo com metas fixas
A cimeira do G20, que terminou anteontem e precedeu a COP26, não conseguiu definir metas temporais para o objetivo de eliminar o financiamento das centrais elétricas a carvão, considerado essencial para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC. Embora tenham assumido esse compromisso, os representantes das 20 maiores economias mundiais apenas se comprometem a atingir o objetivo "por volta da metade deste século".