O presidente norte-americano, Donald Trump, clamou que Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, é o seu equivalente trapalhão e louro deste lado do Atlântico. O líder do Partido Trabalhista - principal força da oposição -, Jeremy Corbyn, vai tentar que a mensagem passe a tempo de o fazer vencer as eleições legislativas da próxima quinta-feira.
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Retirando o Brexit da equação, Johnson é um normalíssimo conservador, cuja agenda política, instintos e visão do Mundo são - por oposição à sua personalidade - quase entediantes. É um membro e defensor do "establishment", com o desejo de nele ascender, não de o derrubar.
Corbyn acredita que a ordem estabelecida é intrinsecamente corrupta e vê conspirações e injustiças em tudo o que é lado. É um socialista vegetariano fazedor de compotas, autoproclamado anti-imperialista defensor dos direitos das minorias. Acima de tudo, é um moralista inflexível.
O líder do Partido Conservador é a favor do enriquecimento, marcadamente pró-americano e saudoso do império. Em contraste com Corbyn, é um ginasta da moralidade, a nível pessoal e profissional. Os críticos acusam-no de não ser de confiança e de mentir sem remorsos. Ainda assim, os apoiantes não desarmam.
Para Johnson, a saída do Reino Unido da União Europeia é um exercício de soberania nacional. "Make Britain great again", dir-se-ia.
Corbyn quer refazer o país e a forma como ele se posiciona em termos internacionais e é cético em relação às estruturas de segurança institucional definidas por Londres e Washington após a Segunda Guerra Mundial.
Além disso, é instintivamente hostil ao mais próximo aliado dos britânicos - os Estados Unidos - e defende soluções de compromisso com os inimigos da nação.
consertar o sistema
O atual primeiro-ministro britânico é previsível. Apoia uma ação multilateral para combater as alterações climáticas, a "ressurreição" do acordo nuclear com o Irão, a NATO, a "relação especial" com os Estados Unidos, o direito de Israel à autopreservação, a intervenção militar no Médio Oriente e onde for preciso e uma ordem internacional (o que quer que isso seja).
E subscreve todo e qualquer consenso britânico pós-guerra, com a evidente exceção da presença na União Europeia.
Especificamente sobre o Brexit, Johnson crê que ele é necessário para que o Reino Unido se torne um mercado livre e uma economia internacional mais dinâmicos. Quer que o país consiga mais acordos de comércio livre e baixar tarifas.
Já Corbyn duvida de todos os tipos de comércio livre, seja com o resto da Europa, seja com os Estados Unidos. Por isso, já foi acusado de protecionismo.
O trabalhista vai buscar o "poder" às massas, não é um adepto ferrenho da democracia representativa. Corbyn acredita que o povo foi usurpado dos seus direitos pelo sistema que o político quer agora consertar.
Por outro lado, a declarada simpatia que nutre pelo Hamas, Hezbollah, IRA, Irão, pela Venezuela, por Cuba e pela hostilidade russa em relação à NATO - cuja utilidade Corbyn coloca em causa - tem vindo a ser motivo de preocupação entre os serviços de informação britânicos, e não só.
Desde sempre lutou contra as armas nucleares, num país que as tem como pilar da defesa nacional.
Johnson é um antigo diretor e colunista de um dos mais conservadores jornais britânicos, "The Telegraph". Para Corbyn, os média tradicionais são combatentes inimigos.
O trabalhista quer uma revolução social e económica na Reino Unido. Analistas afirmam que o primeiro-ministro propõe-se como um Tony Blair - antigo chefe de Governo "labour" - com mão mais firme em relação ao crime.
elitismo quanto baste
Corbyn é truculento e reage mal às críticas, totalmente convencido da sua retidão, indisponível para se vergar ou ceder, o que lhe vale a admiração dos apoiantes fartos dos políticos cata-vento.
As críticas afetam Johnson profundamente, o que o leva a questionar as próprias convicções até ao ponto de achar que, na verdade, não tem muitas. É elitista e intelectualmente snob.
Os instintos de Corbyn aproximam-no dos militantes de base do partido; os de Johnson afastam-no.
A liderança partidária do trabalhista tem testemunhado um ressurgimento - até há pouco tempo inimaginável - do antissemitismo na Esquerda, com alguns deputados judeus do "Labour" a sentirem-se empurrados para fora do partido e a acusarem Corbyn de permitir que o racismo floresça.
Os apoiantes do conservador tentam acreditar que as ideias de Johnson são as suas, mesmo quando é evidente a dificuldade em defendê-las.
O presente chefe do Executivo britânico adora a pomposidade do "status quo". Corbyn quer combater ambos.
Alexander Boris de Pfeffel Johnson nasceu a 19 de junho de 1964, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, filho de pais britânicos. Vai na terceira mulher e é pai de quatro herdeiros.
Jeremy Bernard Corbyn viu o céu pela primeira vez em Chippenham, Inglaterra, a 26 de maio de 1949. Como o principal rival político, é casado pela terceira vez, mas tem menos um descendente.
Pela saída do Reino Unido da UE
Os conservadores têm 70% dos votos dos eleitores favoráveis à saída do Reino Unido da União Europeia, enquanto os trabalhistas têm apenas metade do voto dos que querem ficar.