Crescente procura por iodeto de potássio nas farmácias desde o ataque à central nuclear de Zaporizhzhia.
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Desde o ataque à central nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Ucrânia, que as farmácias europeias e também as portuguesas têm registado uma procura crescente por suplementos de iodo para proteger de uma eventual exposição à radioatividade. A Associação Nacional de Farmácias confirma o aumento da procura desde sexta-feira e está a ultimar orientações para ajudar os farmacêuticos a responder às dúvidas dos utentes.
Médicos e farmacêuticos alertam que a preocupação dos portugueses não se justifica - pela distância a que o país se encontra da Ucrânia - explicam que os comprimidos com iodo disponíveis nas farmácias "são completamente ineficazes" para prevenir riscos de exposição à radioatividade e avisam que a sua toma indiscriminada tem riscos.
Félix Carvalho, presidente da secção Norte da Ordem dos Farmacêuticos, corrobora que vários colegas têm relatado um aumento da procura de produtos à base de iodeto de potássio. E deixa claro: "É um disparate. Estes medicamentos são completamente ineficazes porque não têm uma dosagem suficiente para prevenir riscos de exposição à radioatividade", refere ao JN. Há apenas um fármaco aprovado para uso em caso de intoxicação por iodo radioativo, mas não está à venda (ler ao lado).
Nuvem pode ir até 500 KM
Por outro lado, diz, em caso de acidente nuclear na Ucrânia, seja por bomba ou por ataque às centrais, a nuvem "pode percorrer no máximo 500 quilómetros", o que significa que "não há razão para alarme".
Jorge Gonçalves Pereira, especialista em Medicina Nuclear e presidente da Comissão de Proteção Radiológica do Hospital de S. João, também faz um apelo à calma. Um incidente em centrais nucleares seria particularmente grave para os países próximos da Ucrânia, mas os seus efeitos dificilmente chegariam a Portugal. Por isso, e porque a população portuguesa tem uma alimentação rica em peixe (que contém iodo), o médico diz que "não se justifica, nem recomendaria de maneira nenhuma a suplementação com iodo".
SABER MAIS
Não está à venda
O único fármaco aprovado pelo Infarmed para utilização após acidentes nucleares, com o objetivo de evitar a absorção de iodo radioativo pela tiroide, chama-se Iodeto de Potássio GL Pharma 65 mg. Porém, apesar de aprovado, não está à venda nas farmácias, garante a Ordem dos Farmacêuticos.
Só por apelo ao país
O medicamento só pode ser tomado após um apelo explícito das autoridades e só tem elevada eficácia nas duas horas seguintes à exposição.
Riscos do iodo
Mulheres grávidas, pessoas com hipersensibilidade ao iodo e problemas renais não devem tomar suplementos de iodo. E acima dos 40 anos também não se justifica porque o risco de cancro de tiroide não aumenta em caso de exposição radioativa.