Um terço das pessoas infetadas por covid-19 pode desenvolver problemas psiquiátricos ou neurológicos até seis meses após recuperar da doença, revela um novo estudo da Universidade de Oxford.
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A partir da análise dos dados de saúde de 236 379 pacientes norte-americanos que tiveram covid-19, os investigadores concluíram que a 34% deles foram diagnosticados com um problema psiquiátrico. Entre as doenças mais comuns, estão a ansiedade e bipolaridade, provavelmente explicados pelo stresse consequente da doença. Segundo o professor da Universidade de Oxford Masud Husain, há também provas de que o vírus pode atingir o cérebro e causar danos diretos.
Quanto mais grave estiver o doente, maior a probabilidade de receber um diagnóstico subsequente de saúde mental ou distúrbio cerebral. Por exemplo, estes casos foram diagnosticados em 62% das pessoas que sofreram de encefalopatia durante a infeção pelo novo coronavírus. O estudo aponta, contudo, que efeitos graves também são evidentes em pessoas que não tenham estado internadas.
Ainda neste estudo observacional, foram comparados dados de um grupo de pessoas que teve covid-19 com outros dois grupos, com gripe e infeções respiratórias, respetivamente. Tendo em conta as características de saúde subjacentes, como idade, sexo, etnia e condições de saúde existentes, os investigadores também descobriram que, em geral, havia um risco 44% maior de diagnósticos neurológicos e de saúde mental pós-covid-19 do que após uma gripe ou outras infeções respiratórias.
Dada a escala da pandemia e a natureza de alguns diagnósticos neurológicos e psiquiátricos, o principal autor do estudo, Paulo Harrison, afirmou que "os riscos individuais para a maioria destes problemas são baixos, mas o efeito na população pode ser substancial e fazer-se sentir nos sistemas de saúde e sociais".
"Estes são dados reais de um grande número de pacientes. Confirmam a alta taxa de diagnósticos psiquiátricos após a covid-19 e mostram que também ocorrem problemas sérios no sistema nervoso, tais como acidentes vasculares e demências, que embora mais raros, são significativos, sobretudo em quem teve casos graves de covid-19", enfatizou.
Agora, o objetivo incide em determinar o que acontece para além dos seis meses. "O estudo não consegue revelar os mecanismos envolvidos mas evidencia a necessidade de investigar urgentemente para os identificar, prevenir ou tratar", acrescentou um dos autores do estudo, Max Taquet.
Os autores reconhecem algumas limitações à sua investigação, começando pela possível falta de fiabilidade dos registos eletrónicos. Além disso, várias pessoas infetadas pelo novo coronavírus não têm sintomas ou apenas têm sintomas ligeiros e não entram nos registos dos cuidados de saúde.