"Coligação semáforo" liderada por Olaf Scholz toma esta quarta-feira posse com política interna e externa no horizonte. Legado de Angela Merkel será continuado.
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O novo Governo germânico, liderado por Olaf Scholz, toma esta quarta-feira posse, um dia depois de os três partidos da "coligação semáforo" assinarem, em Berlim, o acordo que permitirá ao social-democrata ser investido como chanceler. Scholz vai suceder à democrata-cristã Angela Merkel, que liderou a Alemanha nos últimos 16 anos.
O co-presidente dos Verdes e futuro Ministro da Economia e do Clima, Robert Habeck, salientou que os três partidos formaram "um governo para o povo na Alemanha", embora sejam "reconhecíveis nas suas diferenças".
Num momento em que o país enfrenta vários obstáculos, as prioridades do novo Executivo passam não só por impulsionar a economia do país, como também por travar as alterações climáticas, uma das bandeiras erguidas pelos Verdes.
O futuro será desafiante, como admitiu o novo ministro das Finanças, o liberal Christian Linder, frisando que o Governo quer começar já a trabalhar no progresso.
Um dos principais problemas que o país assiste é a disseminação da pandemia, devido ao aumento de novas infeções por covid-19. Com esta questão em vista, o sucessor de Merkel nomeou Karl Lauterbach, um dos epidemiologistas mais conceituados da Alemanha, para ministro da Saúde.
José Palmeira, professor de Relações Internacionais na Universidade do Minho, destaca que este deverá ser o primeiro desafio a ser vencido, alertando que uma situação pandémica mal gerida "também poderá ter repercussões na economia".
Após vários anos de liderança de Angela Merkel, que ajudou a criar uma Europa mais unida, o papel que o Governo Scholz terá no seio da União Europeia (UE).
O mundo está em constante mudança e o aparecimento de novas questões geopolíticas podem ditar posições distintas da chanceler, mas na visão de José Palmeira "coligação semáforo" deverá assumir um papel de continuidade. "Penso que não haverá grandes mudanças. Deverá manter o papel construtivo, com vista a reforçar a segurança", afirma o docente.
Política e migração
Um dos primeiros desafios a nível europeu prende-se com a oposição à presença militar da Rússia na Ucrânia. Scholz pediu que Moscovo respeite a integridade de Kiev descrevendo a situação como "muito grave".
José Palmeira chama a atenção para as medidas tomadas no caso de a Rússia avançar com uma invasão, uma vez que "qualquer posição que a Alemanha tome, terá de ser pensada de modo a não destabilizar a dependência energética" que tem com Moscovo.
Com a política migratória a ser uma das prioridades da UE, o especialista refere ainda que a Alemanha poderá continuar a ser um ator fundamental no eixo franco-alemão. Numa altura em que a França e o Reino Unido estão em divergência devido aos recentes acontecimentos no Canal na Mancha, a Alemanha pode fornecer uma posição de mediação no conflito.