O empresário cabo-verdiano que alega ser o presidente legítimo da Confederação Empresarial da CPLP (CE-CPLP) disse hoje à Lusa que a direção atual está a tentar "branquear situações irregulares que podem estar ligadas ao tráfico de menores".
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"O que esta pseudo-liderança pretende é branquear todo o processo dos anteriores mandatos" ao recusar uma auditoria independente que investigue, entre outras questões, a ligação a Mário Costa, responsável financeiro da organização durante anos e membro da comissão executiva nas direções anteriores.
Mário Costa é suspeito num caso de tráfico de menores numa academia de futebol em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão, gerida por uma empresa sua, afirmou Marcos Rodrigues à Lusa no final da assembleia geral, que decorreu em Lisboa.
"Há problemas antigos e temos de conhecer as atividades anteriores, saber como estão as contas, porque é que foi aberta uma nova conta bancária, saber se a CE-CPLP está ou não ligada à escola de formação de futebol e ao tráfico de menores, se está ou não ao serviço dos interesses de Mário Costa e Salimo Abdula, e eu quero ver isto esclarecido numa auditoria independente que analise profundamente a situação", salientou o empresário.
Salimo Abdula era presidente da CE-CPLP e Mário Costa era membro da comissão executiva nas direções anteriores, e líder da União de Exportadores da CE-CPLP, até dezembro do ano passado.
Em resposta, a direção da CE-CPLP afirmou que irá "avaliar e recorrer às instâncias jurídicas para que o ou os autores de tais afirmações assumam a atitude de constantemente recorrerem à calúnia e a mancharem o bom nome das pessoas e instituição".
A CE-CPLP tem três processos a decorrer em tribunal sobre a liderança da confederação, que está envolta em polémica desde as eleições, no final do ano passado, com Nelma Fernandes e Marcos Rodrigues a reclamarem a direção da confederação.
À Lusa, Marcos Rodrigues diz que venceu a votação original, com cinco países a votarem em si, e quatro em Nelma Fernandes, o que lhe teria dado a vitória.
"Estou em funções e só não assumi a presidência nem tenho feito declarações públicas porque quero proteger a credibilidade da CE-CPLP e aguardo a decisão do tribunal, que na receção da providência cautelar diz explicitamente que ambos os candidatos deviam abster-se de tomar decisões e de se intitularem presidente da CE-CPLP, que foi o que eu fiz", diz Marcos Rodrigues.
Alguns países não tinham quotas em dia
No entanto, para Nelma Fernandes, essa votação não era válida porque alguns países não tinham as quotas em dia e, portanto, não poderiam votar, tendo sido convocada nova votação que lhe deu a vitória.
"Não é por haver processos em tribunal que uma empresa ou uma associação ou uma confederação deixa de trabalhar, e é isso que estamos a fazer", disse Nelma Fernandes à Lusa no final da assembleia geral, que decorreu esta semana em Lisboa.
O tribunal cível de Lisboa vai decidir a 5 de setembro qual das votações é válida e, portanto, quem será o legítimo presidente da confederação, pondo fim a um processo em que ambas as partes reclamam a presidência.
Na reunião desta semana, "foi votado e aprovado que os sócios de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe [a Câmara de Comércio do Sotavento, presidida por Marcos Rodrigues, e a Câmara do Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços, presidida por Jorge Dias Correia, respetivamente] têm 30 dias para decidir se querem começar a participar nos trabalhos da confederação, caso contrário serão substituídos", disse a empresária Nelma Fernandes, argumentando que a CE-CPLP, "composta por nove países, não pode ficar refém de dois países".
Para Marcos Rodrigues, esta é a prova de que "a atual pseudo-direção quer afastar os sócios fundadores e substituí-los por amigos, numa manobra evidente e clara para manter a CE-CPLP refém de alguns interesses privados e não ao serviço das nações".
A CE-CPLP foi fundada em Lisboa a 4 de junho de 2004 e é uma organização que visa o desenvolvimento e cooperação do empresariado dentro do espaço lusófono, contando com cerca de uma centena de associados dos nove países da comunidade.