Crianças de fralda, sem subirem escadas. Docentes primários ingleses lamentam falta de apoio dos pais
Inquérito realizado em Inglaterra e no País de Gales revelou que há miúdos a entrar na escola primária com fracas habilidades motoras básicas e sem rotinas de ida ao WC. A pandemia "começa a ser uma desculpa", referem os docentes, que apontam para a falta de ação dos pais.
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Há crianças a chegar à escola primária "incapazes de subir escadas" e outras a utilizar diversas expressões que não fazem parte da sua língua materna devido ao tempo excessivo passado online. As conclusões são de um inquérito realizado pela consultora Savanta (para a instituição Kindred2, dedicada à melhoria da educação infantil) a mil professores em Inglaterra e no País de Gales.
Embora a pandemia tenha sido responsabilizada por atrasar o desenvolvimento das crianças em idade escolar, há docentes que acreditam que a explicação do "bebé covid" começa a ser uma desculpa. Aliás, para 49% dos inquiridos, os problemas notados nos miúdos agravaram-se no ano passado.
Citada pelo britânico "The Guardian", a diretora da Kindred2, Felicity Gillespie, afirmou que as conclusões do estudo sugerem que "muitos pais não estão a apoiar o desenvolvimento dos filhos". Em setembro passado, uma em cada quatro crianças chegou à escola de fralda, sem o mínimo trabalho de aquisição de rotinas de ida à casa de banho. Além disso, os professores apontam que os meninos apresentam fracas habilidades motoras básicas e músculos subdesenvolvidos, que associam ao uso excessivo de ecrãs.
Um dos docentes que participou no inquérito contou ter duas crianças na turma que, "fisicamente, não se conseguem sentar no chão", por não terem força no núcleo abdominal. Os professores descreveram ainda casos de meninos que começam a andar muito tarde, movimentos desajeitados e incapacidade de subir escadas.
Quase dois em cada cinco profissionais associaram o menor tempo gasto na educação infantil durante a pandemia a estes atrasos, mas, para um responsável senior de East Midlands, "há um limite de tempo para se culpar a covid". "Lamento, mas muito disto se resume à parentalidade", defendeu.
Num inquérito paralelo feito a 1000 pais, menos de metade (44%) disse que achava que as crianças deviam entrar na escola a saber como usar corretamente um livro, virando as páginas em vez deslizar, como se estivessem a utilizar um ecrã. Três em cada quatro (76%) defenderam que os meninos devem ter rotinas de ida ao WC antes de iniciarem os estudos.
Os docentes (83%) consideram ainda que o elevado custo de vida vai ter um impacto significativo na preparação escolar dos meninos este ano. "Os pais estão ocupados a trabalhar e não acho que estejam a passar tempo de qualidade com as crianças, a treinar essas habilidades básicas de brincadeira e de conversa", sublinhou uma das professoras.