Um criminoso de guerra nazi que viveu 100 anos continua a suscitar polémica depois de morto: o Vaticano recusa fazer-lhe o funeral, a Argentina não o quer de volta e os familiares das suas vítimas querem-no cremado.
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Erich Priebke, responsável por um massacre em Roma em 1944, estava a viver em prisão domiciliária em Roma até à sua morte, na semana passada.
O corpo do ex-capitão das SS, que nunca expressou arrependimento pelo seu papel no massacre de 335 italianos em represália pela morte de dez soldados alemães, está numa morgue da capital italiana à espera que lhe deem destino.
O seu advogado, Paolo Giachini, afirmou que Priebke seria enterrado junto da sua mulher na Argentina, onde viveu mais de 40 anos depois da II Guerra Mundial, mas o país recusou-se a receber o corpo.
As autoridades religiosas de Roma recusaram conceder-lhe um funeral católico, como é desejo da sua família.
"Os filhos querem que tenha um funeral católico. Querem que seja respeitada a vontade do seu pai, que sempre foi um cristão", frisou Giachini, em cuja casa Priebke vivia.
O advogado já ameaçou que fará uma cerimónia fúnebre "na rua, se a Igreja não concordar com o funeral".
Em Itália receia-se que a realização de um funeral atraia neo-nazis, depois de um grupo ter tentado colocar flores na casa onde Priebke morreu e ter surgido a inscrição "Honra a Priebke" junto a uma cruz suástica numa parede perto da residência.
Antonio Curcio, um padre de uma igreja perto da casa onde Erich Priebke esteve em prisão domiciliária, ofereceu-se para conduzir uma cerimónia, desde que fosse privada, frisando que esse é um direito que "não pode ser negado a qualquer cristão".
Os "caçadores de nazis" do Centro Simon Wiesenthal, uma organização baseada nos Estados Unidos, defendem que o corpo de Priebke deve ser enviado para a Alemanha e cremado, tendo um fim semelhante ao do líder nazi, Adolf Hitler, de forma a "destruir tudo o que o nazismo representou".
Familiares das vítimas do massacre das grutas Ardeatinas defendem que o corpo deve ser sumariamente cremado.
"Era um homem sem piedade", afirmou Amedeo Tedesco, cujo pai foi morto aos 31 anos, ao jornal Il Messaggero, defendendo que "o melhor a fazer é cremá-lo e espalhar as cinzas ao vento sem dizer onde".
Carlo Stilli, cujo sogro também foi vítima de Priebke, afirmou que as feridas do massacre ainda estão demasiado vivas para pensar em deixar o corpo de Priebke em Roma.
"Como é que a cidade pode acolher o corpo de um inimigo? Não há aqui lugar para uma criatura tão obscena", rematou.
Erich Priebke foi condenado em 1998 em Itália a prisão perpétua pela sua participação no massacre das grutas Ardeatinas, em Roma, em março de 1944.
Segundo os 'media', o advogado declarou que o ex-capitão, que nunca manifestou remorsos após o massacre, deixou "uma entrevista escrita e um vídeo como testamento humano e político".
No massacre das grutas Ardeatinas, 335 presos civis, 75 dos quais judeus, foram executados com um tiro na nuca, como represália a um ataque da resistência contra uma unidade das forças de elite nazis 'Waffen SS'.