O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que anunciou a sua demissão esta quinta-feira, chegou ao poder no verão de 2019, depois de ter liderado a campanha para a saída do Reino Unido da União Europeia, o "Brexit".
Corpo do artigo
Desacreditado por vários escândalos ao longo dos três anos no poder, o anterior presidente da câmara de Londres, de 58 anos, tinha recusado demitir-se da liderança dos conservadores e do governo, mas acabou por ceder às pressões do próprio partido.
Principais destaques dos três anos da liderança de Boris Johnson, segundo a agência francesa AFP:
Julho de 2019: vitória triunfante
O campeão da campanha pró-"Brexit" Boris Johnson é eleito chefe do Partido Conservador em 23 de julho de 2019, após uma vitória esmagadora sobre o secretário dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt.
No dia seguinte, é nomeado primeiro-ministro pela rainha Isabel II, prometendo uma rápida saída da União Europeia.
Janeiro de 2020: "Brexit" consumado
Sob a liderança de Johnson, o Partido Conservador obtém uma maioria histórica na Câmara dos Comuns nas eleições antecipadas de dezembro de 2019.
O Parlamento aprova depois o acordo Brexit e, em 31 de janeiro de 2020, três anos e meio após o referendo, o Reino Unido deixa a União Europeia.
Abril de 2020: pandemia e cuidados intensivos
O primeiro-ministro anuncia, em 27 de março, que um teste ao vírus da covid-19 teve um resultado positivo, depois de ter sentido sintomas ligeiros.
Em 05 de abril, Boris Johnson é hospitalizado. No dia seguinte, é transferido para os cuidados intensivos e aí permanece durante três dias.
Abril 2021: os primeiros escândalos
Desde o início da pandemia de covid-19, Johnson é criticado pela sua gestão da crise, sendo acusado em particular de ter sido lento a reagir.
Em abril de 2021, negou ter feito comentários controversos em que se opunha a um terceiro confinamento.
O primeiro-ministro enfrenta também um escândalo que envolve membros do seu Governo suspeitos de lóbi e uma controvérsia sobre um dispendioso financiamento da renovação do seu apartamento oficial.
Maio de 2021: reforçado nas urnas eleitorais
O partido do primeiro-ministro ganha terreno aos Trabalhistas nas eleições locais de 06 de maio de 2021, que inclui uma vitória histórica em Hartlepool, no nordeste de Inglaterra.
Dezembro 2021: "partygate"
No início de dezembro, as revelações acumulam-se sobre várias festas ilegais com membros do executivo durante os confinamentos para conter a pandemia de covid-19, num escândalo que ficou conhecido por "partygate".
A opinião pública britânica denuncia um padrão duplo, pois o primeiro-ministro tinha acabado de decretar um endurecimento das restrições.
A lista das festas cresce nas semanas seguintes, resultando na abertura de investigações.
Em 12 de abril, Johnson anuncia que foi multado pela polícia por infringir a lei - sem precedentes para um primeiro-ministro em exercício - ao participar numa festa de aniversário na residência e gabinete oficial, em Downing Street, em junho de 2020.
Dá várias explicações para o sucedido, mas assegura ao Parlamento que não quebrou as regras.
Maio de 2022: contratempo eleitoral
Face aos escândalos que abalam a popularidade do primeiro-ministro e à subida da inflação, o Partido Conservador é derrotado nas eleições locais de 05 de maio.
Junho 2022: voto de confiança
Boris Johnson sobrevive a uma moção de censura do próprio Partido Conservador em 06 de junho, desencadeado por deputados descontentes com o "partygate". Mais de 40% dos deputados dizem já não ter confiança no primeiro-ministro, o que reflete a extensão do mal-estar.
Julho 2022: escândalos sexuais
Além do "partygate", o campo conservador é abalado por uma série embaraçosa de escândalos sexuais, incluindo um suspeito de violação preso e depois libertado sob fiança em meados de maio, e um antigo deputado condenado a 18 meses de prisão por agressão sexual a um adolescente.
Em 05 de julho, Boris Johnson pede desculpa e reconhece que tinha cometido um erro ao nomear Chris Pincher, que era responsável pela disciplina parlamentar dos deputados conservadores, para o seu Governo em fevereiro, apesar de ter sido informado de alegações sexuais contra ele.
Julho de 2022: uma série de demissões
No mesmo dia, 05 de julho, cansados dos escândalos, os ministros da Saúde e das Finanças demitem-se. Segue-se uma avalanche de demissões dentro do executivo.
Pelas 10:00 de hoje, quase 60 membros do Governo já tinham saído e Downing Street anuncia que o primeiro-ministro irá dirigir-se ao país nas horas seguintes.
Ao fim da manhã, Boris Johnson anuncia aos britânicos a sua demissão, mas que permanecerá à frente do executivo até ser substituído na liderança do Partido Conservador.