Dançou com Putin no casamento e exilou-se na Rússia: ex-ministra da Áustria nega ser "agente do Kremlin"
Pária no seu país natal depois de dançar com o presidente russo, Vladimir Putin, no casamento, a polémica ex-ministra dos Negócios Estrangeiros da Áustria, Karin Kneissl, foi forçada a exilar-se na Rússia, embora negue ser uma "agente do Kremlin".
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Numa entrevista à AFP, Karin Kneissl disse sentir-se caluniana e nega qualquer envolvimento no escândalo de espionagem, que parece revelar um ninho de espiões russos em posições influentes na Áustria, especialmente entre a poderosa extrema-direita do país.
“Fui insultada e realmente reduzida a uma agente do Kremlin”, disse a ex-diplomata, de 59 anos, numa entrevista por videoconferência de São Petersburgo. “Mas não ponho os pés no Kremlin desde 2018. Eles têm outras coisas com que se preocupar”, insistiu.
A antiga ministra dos Negócios Estrangeiros chegou às manchetes em 2018, quando fotografias a dançar com Putin foram amplamente divulgadas, levantando questões sobre a neutralidade da Áustria, enquanto o país presidia a presidência rotativa do Conselho da União Europeia. Kneissl tinha sido nomeado ministra um ano antes pelo Partido da Liberdade de extrema direita (FPOe) da Áustria, que assinou um “pacto de cooperação” com o partido Rússia Unida de Putin em 2016. Kneissl deixou o governo em 2019 e desde então distanciou-se da FPOe, da qual nunca foi membro. À AFP, a ex-ministra disse que "tentaram livrar-se" dela porque era "muito independente".
No entanto, foram as suas ligações próximas com a Rússia, onde vive desde setembro do ano passado, que a forçaram a negar envolvimento no maior escândalo de espionagem da Áustria em décadas, que recentemente veio à tona quando um ex-oficial de informações austríaco foi detido sob suspeita de espionagem para Rússia. As revelações que se seguiram à detenção de Egisto Ott em março renovaram as acusações levantadas contra a FPOe de que se acredita que infiltrados próximos do partido ainda trabalham como agentes russos. “Nunca conheci Ott, não sei nada sobre isso e estou à disposição dos tribunais”, garantiu Kneissl na mesma entrevista.
Fuga para a Rússia
Kneissl, que fala oito línguas, afirma que teve de deixar a Áustria em setembro de 2020, depois de não ter conseguido encontrar trabalho após a sua “dança com o czar”. Vídeos que mostravam Kneissl a fazer uma reverência profunda diante de Putin no seu casamento causaram indignação e levaram a insultos e ataques contra ela, contou à AFP. "Houve uma verdadeira campanha mediática contra mim. Na Áustria, infelizmente fui atacada na rua e chamada de 'prostituta de Putin'", continuou.
Colaboradora regular da organização de notícias RT, financiada pelo Estado russo, desde 2020, Kneissl inicialmente trocou a Áustria por França. No entanto, alega que foi forçada a deixar o país, onde as autoridades pareciam não apreciar as suas contribuições para o canal pró-Kremlin, que mais tarde foi proibido na União Europeia. Incapaz de abrir uma conta bancária ou encontrar alojamento permanente, Kneissl disse que “sobreviveu na rua, num colchão” antes de se mudar para o Líbano.
Para se mudar do Médio Oriente para a Rússia, Kneissl disse que contactou as autoridades russas “pela primeira vez” para obter ajuda para transportar os seus animais, incluindo dois póneis, através da base aérea russa em Hmeimim, na Síria. Em setembro de 2023, foi incumbida de chefiar um novo "think tank" ligado à Universidade de São Petersburgo, o que lhe permitiu "finalmente estabelecer-se" na Rússia após uma "odisseia muito cansativa". No think tank Gorki, Kneissl passa os dias a “ter ideias” sobre como “garantir as exportações russas” sem depender dos gigantes da navegação ocidental.
A antiga ministra austríaca já tinha feito no conselho de administração da gigante petrolífera russa Rosneft antes de deixar o cargo em maio de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que não condenou explicitamente numa entrevista à BBC, observando apenas observou como a ordem geopolítica mudou, com Moscovo a forjar novos laços "com o Irão, a China e o Zimbabué" à medida que as relações com o Ocidente se deterioravam.
Agora separada do empresário austríaco Wolfgang Meilinger, quem se casou em 2018, Kneissl quer estabelecer-se numa área rural nos arredores de Moscovo e lecionar em toda a Rússia.
Num livro publicado em russo, relembra os últimos anos ofuscados pela controvérsia. Porém, apesar dos contratempos, diz não se arrepender de ter dançado com Putin. "Ministra ou não, eu danço com quem quiser", rematou.