O primeiro-ministro espanhol anunciou esta segunda-feira que não se vai demitir, aproveitando para criticar a "campanha de difamação" e defendendo que um cargo político não deve ser razão para "ataques a pessoas inocentes".
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"Se permitirmos ataques a pessoas inocentes, então não vale a pena. Se permitirmos que mentiras substituam o debate, então não vale a pena. Eu precisava de parar e refletir", defendeu Pedro Sánchez, relembrando que a carta que escreveu e partilhou nas redes sociais na quarta-feira "pode ser desconcertante porque não se deve a cálculo político".
"Reconheci diante daqueles que me procuram quebrar, que dói viver nessas situações. Agi com uma convicção clara. Esta não é uma questão ideológica", defendeu. “Exigir resistência incondicional significa colocar o foco nas vítimas e não nos agressores", acrescentou ainda.
O líder do Partido Socialista espanhol (PSOE) e do Governo de Madrid reiterou que ele próprio e a família estão há anos a ser vítimas de "um assédio" e uma "campanha de descrédito" dos seus aniversários políticos, com base em boatos e mentiras que são levadas para o debate político, e apelou è reflexão sobre a "degradação da vida pública" em Espanha e à mobilização social "pela dignidade" e contra "a política da vergonha".
Pedro Sánchez afirmou, na quarta-feira, que ponderava demitir-se e que ia parar para refletir durante cinco dias, depois de um tribunal de Madrid confirmar a abertura de um "inquérito preliminar" por alegado tráfico de influências e corrupção da sua mulher, Begoña Gomez.
"A minha mulher e eu sabemos que esta campanha de difamação não vai parar. É grave, mas não é o mais importante. Podemos lidar com isso, o importante é que queremos expressar os nossos sinceros agradecimentos pelas expressões de solidariedade e empatia que recebemos de todas as esferas da vida", afrimou, prometendo continuar a "liderar com firmeza".
O inquérito surgiu na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita baseada em alegações e artigos publicados em páginas na Internet e meios de comunicação digitais. O Ministério Público pediu no dia seguinte o arquivamento da queixa, por considerar não haver indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal.
No caso que envolve Begoña Gómez estão em causa ligações da mulher de Pedro Sánchez a empresas privadas, como a companhia aérea Air Europa, que receberam apoios públicos durante a crise da pandemia de covid-19 ou assinaram contratos com o Estado quando o marido era já primeiro-ministro.
Sánchez, que está à frente do Governo espanhol desde 2018, tem também sido atacado por causa de uma investigação judicial a um assessor de um ex-ministro socialista que alegadamente cobrou comissões ilegais a vender máscaras durante a pandemia a entidades públicas, incluindo governos regionais então nas mãos do PSOE.
Este caso levou à criação de comissões de inquérito no parlamento, apoiadas pelos socialistas, sobre a compra de material sanitário pelas administrações públicas durante a crise da covid-19. Os trabalhos destas comissões arrancaram na semana passada.