Os níveis de poluição em Nova Deli atingiriam este domingo recordes, atribuídos à poluição automóvel e industrial, às queimadas agrícolas e aos fogos do festival Diwali.
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Os números são aterradores, a visibilidade praticamente nula e a luta para respirar titânica: o pico extremo de poluição registado ontem em Nova Deli atingiu mais de 20 vezes os níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e chegou a desviar voos. "A poluição atingiu níveis insuportáveis", admitiu o ministro chefe da capital, Arvind Kejriwal, que chegou a dizer, ainda a contaminação do ar não atingira este recorde, que a capital se transformara numa "câmara de gás". Está declarada uma "emergência de saúde pública".
Estes episódios não são estranhos à capital indiana, mas o deste ano, além de recordista, parece esticar-se no tempo. Os suspeitos são os do costume: o excesso de trânsito automóvel, a poluição de origem industrial, e, nesta altura do ano, sobretudo as queimadas agrícolas nos estados vizinhos do Punjab e Haryana. E a ressaca do festival das luzes, Diwali, que no final de outubro encheu a Índia de fumo de velas, incenso e fogo de artifício.
Do ar ao rio, recorde indiano
A humidade e o arrefecimento do fim de semana agravaram a situação, ao ponto de o nível de segurança estipulado pela OMS, de 25 microgramas de partículas finas PM2,5 por metro cúbico de ar, ter sido relegado a nada: os registos apontam à volta de microgramas, dependendo das estações de medição. Os dados de ontem à tarde do Gabinete Central de Controlo da Poluição apontavam para o pior registo de qualidade do ar em três anos.
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Infeções na garganta e olhos lacrimejantes e a arder são queixas generalizadas. As escolas foram encerradas (até para evitar que milhares de autocarros escolares contribuam para piorar a situação) e as obras paradas, os habitantes convidados a ficar dentro de portas, estão a ser distribuídos cinco milhões de máscaras para crianças e a circulação automóvel é, a partir de hoje, alternada entre matrículas pares e ímpares.
Debalde. O mal está essencialmente nas queimadas. Na semana passada, foram recenseadas mais de três milhares. "Deli está a sofrer sem culpa", lamentou Arvind Kejriwal. Em ano de eleições, as trocas de acusações abundam, mas pouco resolvem. E a proibição de fogo de artifício no Diwali também não surtiu efeito. Porque eles estalaram em Deli, aos milhões.
Ontem, 490 voos foram atrasados pelas condições de visibilidade, 32 foram desviados para outros aeroportos e 35 cancelados.
Com 8,8 milhões de veículos e 20 milhões de habitantes, Deli é das cidades mais poluídas do Mundo, segundo um ranking elaborado pela Greenpeace e pela AirVisual.
E , não bastasse o ar irrespirável, tem um rio sagrado, o Yamuna, que está entre os mais poluídos do Mundo. Ontem, parecia neve. Mas era espuma. Tóxica. Já foi descrito por ambientalistas como "ecologicamente morto", acolhe 1,5 milhões de litros de esgotos não tratados por dia e 500 litros de efluentes industriais . Mas fornece 75% das necessidades em água da capital.
Números negros
1,24 milhões de pessoas morreram em 2017 na Índia com doenças relacionadas com a poluição do ar. "Tudo, do aumento da construção, da urbanização, do número de carros na estrada à redução de espaços verdes, está a agravar o problema. Há tanta gente a morrer", lamentou ao "The Guardian" o diretor de Pneumologia do Instituto do Coração e Pulmões de Deli, Sai Kiran Chaudhary.
25 das 50 cidades mais poluídas do Mundo em 2018 eram na Índia. Outras 22 são na China. As restantes são no Paquistão e no Bangladesh. A esperança de vida em sete estados indianos reduziu sete anos devido à poluição.