Opositores querem transmitir revolta e atribuir impacto negativo do “Grande e Belo Projeto de Lei”, aprovado na quinta-feira, aos republicanos.
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A aprovação do controverso pacote orçamental de Donald Trump, apelidado de “Grande e Belo Projeto de Lei”, fez com que democratas começassem a alinhar o discurso para as eleições intercalares de 2026, com os opositores do presidente a alertarem para o impacto da nova legislação para os eleitores. A expectativa é de uma cerimónia grandiosa na Casa Branca, onde o presidente norte-americano vai assinar o diploma em pleno 4 de julho, o feriado da Independência dos Estados Unidos.
O presidente do Comité Nacional Democrata acusou os legisladores republicanos de “traírem os seus eleitores”. “Por isso, para mim, vamos colocar este voto [no Congresso] no pescoço de cada republicano que decidiu vender os seus eleitores para ajudar bilionários”, declarou Ken Martin à rádio pública NPR.
O projeto foi aprovado por 218 votos a favor e 214 contra, incluindo dos 212 democratas e de dois desertores republicanos. O discurso de maior duração na Câmara dos Representantes, com oito horas, pelo líder da minoria democrata, Hakeem Jeffries, apenas adiou a derrota.
O diploma é criticado por aumentar substancialmente os gastos com deportações em massa e confirmar as isenções fiscais de cerca 3,8 biliões de euros do primeiro mandato de Trump, que estavam prestes a expirar, além de estendê-las para gorjetas e horas extraordinárias. Em contrapartida, há um corte de um bilião de euros no programa de saúde Medicaid, usufruído por pessoas sem rendimentos suficientes para pagar um seguro, e em subsídios de alimentação. Há ainda cortes no setor de energia verde. Estima-se que tal legislação aumentará a dívida dos EUA em 2,8 biliões de euros.
Alexandria Ocasio-Cortez lamentou “a barbárie”. “As pessoas vão morrer. Meios de subsistência perdidos. Tudo para alimentar uma cleptocracia corrupta”, disse a congressista de Nova Iorque, uma das democratas mais à Esquerda. “Acho que ninguém está preparado para o que acabaram de fazer com o ICE [agência de Alfândega e Imigração]. Não se trata de um simples aumento de orçamento. É uma explosão – tornando o ICE maior do que o FBI, o Departamento de Prisões dos EUA, a DEA [agência de controlo de drogas] e outros juntos”, denunciou.
Cautela para expor “raiva”
Mesmo com sondagens a indicarem que o “Grande e Belo Projeto de Lei” é impopular, com exceção de algumas medidas, o comité de arrecadação de fundos democrata Priorities USA alertou que será preciso esforço para passar a mensagem. “Não podemos simplesmente assumir que, por estarmos com raiva, os eleitores com quem precisamos de comunicar também estão. Todos precisam de se mobilizar e perceber o enorme desafio que temos pela frente”, frisou à agência Associated Press a diretora-executiva da organização, Danielle Butterfield. “Não estamos nem perto de ser um bom ponto de partida”, completou.
Um Partido Democrata desorientado após a derrota de 2024 e com disputa de diversas correntes, incluindo a mais progressista – que teve recentemente a vitória de Zohran Mamdani nas primárias autárquicas de Nova Iorque –, obriga a que o Comité Nacional planeie um “verão de organização”. Tentará assim manter um discurso coeso até às intercalares de novembro de 2026, quando toda a Câmara dos Representantes é renovada e 35 dos 100 senadores vão a votos.