O Partido Democrata norte-americano lançou uma campanha de grandes dimensões para conseguir que os eleitores californianos aprovem o redesenho dos mapas eleitorais na Califórnia, em resposta a uma medida semelhante no Texas impulsionada pelos republicanos.
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A ofensiva em apoio à Prop 50, que vai a votos numa eleição especial a 4 de novembro, inclui angariação de fundos, ações porta a porta e eventos de campanha por todo o estado.
"É a nossa defesa contra o esquema de [presidente] Donald Trump e dos republicanos MAGA [movimento Make America Great Again] para manipular o Congresso a seu favor antes sequer do início das eleições intercalares do próximo ano", descreveu o Partido Democrata numa nota.
"Temos de aprovar a Prop 50. É a única forma de impedir que Trump roube lugares e silencie milhões de californianos antes de votarem", frisou a força política.
A proposta, oficialmente intitulada "Election Rigging Response Act", foi desenhada como resposta às ações dos legisladores republicanos do Texas, que aprovaram um novo mapa eleitoral no estado a pedido de Donald Trump. Este mapa tem o intuito de eliminar cinco lugares ocupados por congressistas democratas e assegurar que o Partido Republicano mantém o controlo do Congresso.
A aprovação no Texas aconteceu em agosto.
Em reação, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, e os legisladores democratas californianos criaram a Prop 50, que redistribui os votos para dar aos democratas a hipótese de recuperar os cinco assentos na Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso norte-americano).
"É algo que ainda não tínhamos visto antes", disse à agência Lusa o analista político Thomas Holyoke, professor na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.
"É uma circunstância única", salientou.
As primeiras sondagens sobre a proposta, agora que a campanha está no terreno, mostram uma ligeira vantagem do "Sim" mas com muitos indecisos.
A mais recente sondagem, conduzida pela Emerson College e Inside California Politics, mostra 51% dos eleitores a favor, 34% contra e 15% indecisos.
Thomas Holyoke considera que ainda é cedo para prever o desfecho da votação, mas admite que há boas hipóteses de que o "Sim" vença.
"Muitas pessoas no estado estão descontentes com a forma como a administração Trump tem agido e podem apoiar algo que é promovido como resistência a Trump", explicou o politólogo.
O especialista também apontou que o redesenho dos mapas podem não ter os resultados que os legisladores preveem, isto é, mais cinco assentos republicanos no Texas e mais cinco democratas na Califórnia.
"Tenho fortes dúvidas de que os assentos em qualquer um dos estados vão seguir o caminho que todos esperam", salientou.
No Texas, os republicanos redesenharam os limites dos distritos de votação com base nas eleições presidenciais de 2024, o que reflete o voto de muitos hispânicos em Donald Trump.
"Isso assume que muitos dos eleitores hispânicos, que votaram uma vez num candidato republicano, vão continuar a votar assim. Mas creio que é uma suposição sem fundamento", frisou.
Gavin Newsom e outros democratas eleitos, como o congressista Pete Aguilar, estão a promover eventos de campanha para convencer os eleitores a aprovar a medida.
Nos próximos fins de semana haverá várias ações de rua em Los Angeles, incluindo voluntários a bater às portas em West Hollywood, Glendale e Silver Lake.
Também está no ar uma campanha que exorta os eleitores a rejeitarem a proposta, sobretudo através de anúncios online e por correio.
"Não podemos salvar a democracia queimando-a na Califórnia", defende a organização "No on Prop 50", que considera a manipulação eleitoral "errada em todos os 50 estados".
Esta organização é financiada por Charles Munger, Jr., líder do Partido Republicano de Santa Clara e filho de um ex-parceiro de negócios do reconhecido filantropo Warren Buffett, que já gastou 30 milhões de dólares na campanha contra a Prop 50.
Designada como "gerrymandering" em inglês, a manipulação dos mapas eleitorais feita para beneficiar um ou o outro partido é legal, ainda que com regras.
Thomas Holyoke referiu que esta manipulação já está no máximo em quase todos os estados, o que deixa pouco espaço de manobra.
A Prop 50 será a única medida a votos a 4 de novembro, um ano antes das eleições intercalares para o Congresso.
Nas eleições intercalares de novembro de 2026, estão em jogo todos os 435 lugares da Câmara dos Representantes e um terço (35 lugares de 100) do Senado (câmara alta da Congresso).
Atualmente, os republicanos detêm a maioria nas duas câmaras do Congresso.