Um cidadão de nacionalidade portuguesa, sem-abrigo, que costumava fazer-se acompanhar por uma bicicleta artilhada com colunas de som e a bandeira de Portugal pendurada, na cidade andaluz de Cádiz, deixou de dar sinal.
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Quem se habituou a ver, nas ruas de Cádiz, sudeste espanhol, um homem "educado e afável de seus 40 e muitos anos", montado numa bicicleta psicadélica, personalizada com luzes e um aparelho de som alimentados por uma placa solar, um sinal de perigo na traseira e uma bandeira portuguesa a anunciar a origem, estranhou o seu desaparecimento. Os elogios ao homem são retirados do "Diario de Cadiz", que dá conta da admiração dos moradores da zona.
Fernando Manuel Soares Bento, 48 anos, engenheiro de profissão a viver em ruas espanholas há pelo menos dois anos, entretinha os vizinhos, manhã e tarde, em troca de moedas para comer, como anunciava na caixinha que fazia também deslocar na bicicleta. Das canções românticas de Julio Iglesias ao pop de Jeniffer Rush, passando pelo rock dos londrinos Dire Straits, a seleção musical escolhida era ampla e resgatada dos anos 70 e 80, às vezes 60, com intervalos de música infantil, relata o mesmo jornal. O volume aceitável e a hora decente a que ligava a maquineta faziam com que fosse uma figura simpática na zona, querida por miúdos e graúdos.
Foi por isso que, durante um passeio por Santa Bárbara, no domingo passado, dois vizinhos ficaram em sobressalto quando descobriram toda a parafernália abandonada e desmontada, à entrada do parque de estacionamento que ultimamente usava como dormitório. Do homem, não havia rasto. A mesma estranheza foi partilhada pelos funcionários do "Calor en la Noche", um café onde Fernando costumava tomar o pequeno-almoço.
Entre as hipóteses levantadas pelas várias fontes que falaram com a publicação espanhola, impera uma: a de que o português possa ter sido agredido por algum grupo violento da zona. Mas a verdade é que nem os serviços sociais, nem a Polícia, nem o hospital local têm conhecimento do caso e os bombeiros não foram sequer chamados a intervir no incêndio que destruiu os pertences do português.
O JN tentou contactar a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas para apurar mais informações sobre o caso do português alegadamente desaparecido, mas ainda não obteve respostas.