Hospitalizadas na capital da Indonésia, Jacarta, mãe e filha aguardavam ansiosamente os resultados do teste ao novo coronavírus quando o presidente, Joko Widodo, fez um anúncio na televisão que apontava as duas mulheres como os primeiros casos de covid-19 no país, em março.
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Numa entrevista transmitida em direto, o presidente revelou que duas cidadãs da Indonésia tinham testado positivo para a covid-19, uma mulher de 64 anos e a sua filha de 31 anos, que estavam a ser tratadas num hospital de doenças infecciosas em Jacarta. Widodo não mencionou os nomes, mas não foi necessário para Sita Tyasutami e a sua mãe, Maria Darmaningsih, perceberem a quem se referia.
Quando as pacientes deram pela gravidade da situação, estavam a ser faladas por todos os meios. Relatórios médicos tinham sido divulgados, detalhes distorcidos e falsos rumores propagavam-se pela internet. Tornaram-se no rosto do surto de coronavírus da Indonésia, e tudo começou a partir de uma tosse seca, náuseas e febre alta.
Darmaningsih é professora de dança no Instituto de Artes de Jacarta e Tyasutami dedica a sua vida às artes performativas. Ambas acreditavam inicialmente que os sintomas podiam ser provenientes do cansaço, mas a partir de 23 de fevereiro o estado de saúde piorou.
Numa primeira análise, Darmaningsih foi diagnosticada com tifo, uma doença transmitida por piolhos e pulgas, e Tyasutami com broncopneumonia. O pedido para a realização do teste à covid-19 foi rejeitado, sendo que o hospital não tinha as instalações adequadas para o efeito.
Cerca de 24 horas depois, ainda hospitalizada, Tyasutami foi contactada por uma amiga que relembrou a sua participação num evento de dança onde uma japonesa que teria testado positivo também compareceu. Após muita insistência, os médicos acederam ao pedido e mãe e filha foram transferidas para o Hospital de Doenças Infecciosas Sulianti Saroso, em Jacarta, onde realizaram o teste de despiste à covid-19,
Já no dia 2 de março, enquanto aguardavam pelos médicos para conhecerem os resultados, os diagnósticos foram lidos pelo presidente Widodo, para indignação das pacientes.
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Ao que apurou a BBC, Achmad Yurianto, porta-voz do governo indonésio, disse que não havia nada de errado com a divulgação do presidente ao público. Numa lei correspondente a 2009 consta que a privacidade do paciente não se aplica a questões de interesse público. Isto é, o anúncio foi lícito.
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Perante o cenário preocupante, Widodo solicitou que a privacidade dos pacientes de covid-19 fosse respeitada, mas o mal já tinha sido feito.
Como ditam as normas, a irmã mais velha de Tyasutami também foi submetida ao teste. Anindyajati, gerente artística de 33 anos, vive em Viena mas viajara até à Indonésia em fevereiro para passar férias. O resultado do teste foi claro: tornara-se oficialmente no terceiro caso de covid-19 no país.
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As jovens Anindyajati e Tyasutami receberam alta no hospital após 13 dias de isolamento. A mãe permaneceu em recuperação por mais três dias, mas constantemente acompanhada - embora à distância - pelas duas filhas.