Designer ucraniana a viver em Braga leva "uma pátria frágil" à passarela de Nova Iorque
Em fevereiro, Svitlana Bevza acabava de regressar a Kiev, depois de participar em mais uma semana de moda nova-iorquina, quando a Rússia invadiu a Ucrânia. Quase sete meses depois, voltou à América, com uma coleção inspirada na dor do seu povo e criada a partir de Braga, em Portugal, onde tem vivido nos últimos meses.
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Foi com um minuto de silêncio que, na terça-feira, a designer ucraniana Svitlana Bevza abriu o seu desfile na Semana de Moda de Nova Iorque (onde se estreou em 2017), pedindo respeito pelo seu país, ainda em guerra após a ocupação russa.
"Uma pátria frágil" foi como batizou a coleção para a primavera/verão 2023, espelhando a dor e a luta de um povo e a experiência emocional da criadora, que ainda resistiu um mês em Kiev, com os dois filhos, depois de começar a guerra, sob bombardeamentos e com as sirenes a tocar.
Svitlana fugiu de autocarro com as crianças, deixando o marido, Volodimir Omelyan, para trás. Ministro do governo ucraniano entre 2016 e 2019, ele juntou-se ao exército, mantendo-se na linha da frente do conflito.
A designer seguiu para a República Checa onde permaneceu um mês e meio, antes de rumar a Portugal, onde se instalou em Braga, sempre na companhia dos filhos, Marc e Ann, que frequentam colégios internacionais na Cidade dos Arcebispos.
Recentemente, voltou à Ucrânia duas vezes e por poucos dias, para se reunir com a equipa que lá permaneceu, fotografar o lookbook da nova coleção, e matar saudades de Volodimir, sempre com o perigo à espreita. "Eu posso ir, mas as crianças não", sublinhou em entrevista à "Harper"s Bazaar".
No reencontro com aqueles com quem trabalha, brindou com champanhe, até que soou o alarme de ataque aéreo para lembrar que a paz ainda não voltou. "Eu não sei como dizer isso - é super deprimente. Antes da guerra, vivíamos nossas vidas. Tudo estava bem", acrescentou à referida publicação.
A partir de Portugal, Svitlana Bevza desenhou os esboços que enviou para as seis pessoas que continuam a trabalhar no ateliê em Kiev e o resto da coleção desenvolveu-se online e à distância, sempre sob orientação da designer.
O resultado subiu à passarela, esta terça-feira, num edifício da Wall Street, em Nova Iorque. Antes de as propostas da Bevza desfilarem, com a bandeira ucraniana no ecrã, ouviu-se a voz da criadora a pedir um minuto de silêncio pelos milhares de vidas perdidas durante o conflito.
A espiga foi o elemento em destaque, numa referência óbvia à Ucrânia, que é um dos maiores produtores mundiais de trigo. Além disso, ainda antes de o conflito bélico se adivinhar, Svitlana já criava colares e brincos em forma de espigas, desta vez escurecidas, como símbolo dos campos queimados.
Também se observaram bordados tradicionais e coletes à prova de balas estilizados, espelhando a dicotomia atual, com o branco a pintar grande parte das propostas, como que gritando pela ansiada paz.