Nadya Tolokonnikova, cofundadora do coletivo de arte feminista Pussy Riot, está de volta a uma cela de prisão. Mas, desta vez, por vontade própria.
Corpo do artigo
No Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles, a ativista russa encena "Estado Policial, uma performance de duas semanas que pretende sensibilizar para os perigos do autoritarismo e da opressão.
Tolokonnikova, que passou quase dois anos numa colónia penal russa por cantar uma canção de protesto contra Vladimir Putin numa igreja de Moscovo, em 2012, percebe um pouco do assunto. Através da instalação, inaugurada na quinta-feira e patente até 14 de junho, diz que espera ensinar os visitantes sobre o que acredita ser o advento de um novo meio de controlo: a tecnologia.
Enquanto estiver na cela simulada, durante todo o horário de funcionamento do museu, comerá, usará a casa de banho, costurará roupas como fazia na sua cela e criará "paisagens sonoras". Os visitantes podem observá-la através de buracos na cela ou em imagens de câmaras de segurança. "As pessoas não levam o autoritarismo a sério", disse Tolokonnikova à AFP.
Sentada numa cela improvisada de uma prisão russa, vestindo um fato de treino verde, a ativista de 35 anos afirma que, em vários países, o conceito de "estado policial" está a expandir-se. "Como alguém que viveu sob um regime autoritário durante mais de 25 anos, sei o quão real é e como começa, passo a passo, com a detenção de uma pessoa. Pensa-se: 'Bem, não se trata de mim'", explicou. "E depois, quando damos por nós, o país inteiro está sob o jugo militar".
"Todos temos de contribuir"
Para Tolokonnikova, o regresso do presidente norte-americano, Donald Trump, à Casa Branca, em janeiro, desencadeou uma "erosão do sistema de freios e contrapesos", que considerou "muito perigosa".
Afirma que a comunidade artística, e a sociedade em geral, deveriam fazer mais para combater os abusos de poder governamentais, onde quer que ocorram, e parar de "terceirizar a política e a ação política". "Sinto como se houvesse outra pessoa que nos ia salvar de tudo. Não é isso que realmente funciona. Todos temos de contribuir", sublinha.
Alguns que visitaram a instalação disseram concordar com Tolokonnikova que a sociedade se tinha tornado demasiado passiva. "Sinto que os americanos não querem acreditar que podemos correr o risco de perder as nossas liberdades", disse Jimmie Akin, designer gráfico que se disse estar preocupado com as mudanças políticas desde que Trump assumiu o poder. "As pessoas precisam de acordar".
Máquina de costura e Navalny
Para Hannah Tyler, de 29 anos, "Estado Policial" foi um choque para o sistema. "Vivemos num país onde não enfrentamos a mesma opressão extrema que ela enfrentou na Rússia, mas estamos a chegar perto disso. Senti-me inspirada a tomar mais medidas do que alguma vez tomei", disse Tyler.
A instalação de Tolokonnikova tem alguns aspetos simbólicos. Possui livros e obras de arte feitas por prisioneiros russos, americanos e bielorrussos, bem como um desenho do irmão do falecido dissidente russo Alexei Navalny. Uma máquina de costura recorda o trabalho manual da sua prisão. Palavras de protesto estão esculpidas nas paredes.
Para Alex Sloane, curador associado do museu, a instalação mostra como "a crescente vigilância e os excessos governamentais" estão a tornar-se cada vez mais disseminados e "as liberdades estão em risco". "Devemos fazer tudo o que pudermos para garantir" que tais circunstâncias são mantidas sob controlo, disse Sloane.