Detetados 11 bebés com "síndrome do lobisomem" cujos pais usaram produtos para calvície
Uma investigação do Centro de Farmacovigilância de Navarra descobriu que as loções anti-calvície podem ter um efeito adverso nas crianças: o crescimento de pelos em excesso, conhecido como "síndrome do lobisomem".
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A hipertricose, ou "doença do lobisomem", caracteriza-se por um crescimento excessivo de pelos no corpo, que pode ser localizado ou generalizado. Embora pareça um sintoma maioritariamente estético, em crianças pequenas pode trazer riscos acrescidos como complicações no coração ou nos rins.
O primeiro caso foi descoberto quando chegou um relato ao centro de invetigação sobre "uma criança cujo pelo crescia progressivamente há dois meses nas costas, pernas e coxas”, explica Gabriela Elizondo, do Centro de Farmacovigilância de Navarra, em declarações ao "El País".
O pai usava uma loção para tratar a alopecia que continha "5% de minoxidil" e estava em casa a cuidar do filho, ou seja, passava bastante tempo com a criança. Elizondo explica que os sintomas do bebé desapareceram completamente quando o homem parou o tratamento.
Depois da situação estar resolvida, os investigadores decidiram aprofundar o tema e reviram todos os casos de hipertricose em bebés na Europa, através de uma base de dados que regista suspeitas de reações adversas a medicamentos. A análise revelou mais dez episódios de crianças até aos nove meses, cujos pais utilizavam minoxidil.
Como prevenir sintomas
Confrontada com esta descoberta, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) já alterou as informações na bula das loções de minoxidil. "Tendo em conta os dados disponíveis (...) o Comité de Farmacovigilância considera que uma relação causal entre o uso de minoxidil e a hipertricose em bebés após exposição tópica acidental é, pelo menos, uma possibilidade", refere o documento da EMA que analisou os casos.
No entanto, "não é muito claro" como é que o minoxidil é transmitido do pai para o bebé, admite Elizondo. “Estamos a considerar duas hipóteses. Uma é que seja através do contacto pele a pele. Nos bebés, é mais permeável porque o stratum acorneum [a camada exterior da epiderme] é mais fino". A segunda hipótese é a transmissão via oral, dado que nestas idades é normal que os bebés encostem a boca à pele dos pais "onde a loção foi aplicada”, realça.
Por enquanto, a recomendação para prevenir estes casos passa por higienizar bem as mãos após a aplicação do medicamento e evitar o contacto entre os bebés e as partes do corpo onde a loção foi utilizada.
Embora todos os casos registados até agora tenham sido detetados entre pais e crianças, não significa que as mães não possam também causar os mesmo sintomas nos bebés. Esta disparidade pode estar relacionada com a tendência das mulheres para desenvolver alopecia numa idade mais tardia, quando nos homens é mais precoce e coincide mais facilmente com a idade da paternidade.