Dez anos de batalha judicial: menino arménio refugiado vai poder ficar nos Países Baixos

Há apenas um ano, o Governo neerlandês dava como adquirido que o rapaz ia ser deportado para a Arménia
Foto: Direitos Reservados
O menino arménio Mikael, nascido em Amesterdão em 2012 e símbolo do debate nos Países Baixos sobre como tratar menores sem estatuto legal, pode ficar no país com a mãe.
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O anúncio, após uma década de litígio, foi feito pelos advogados, depois de o Serviço de Imigração e Naturalização (IND) neerlandês ter aceitado o novo pedido de residência.
Há apenas um ano, o Governo neerlandês dava como adquirido que o rapaz ia ser deportado para a Arménia depois de o Conselho de Estado, a mais alta instância judicial administrativa do país, ter confirmado a posição do executivo em 2023 e concluído que nem o rapaz, agora com 13 anos, nem a mãe tinham direito a visto de residência.
A família manteve-se fora do radar institucional durante mais de três meses, depois de abandonar em 2015 o centro de acolhimento onde estava alojada, o que acabou por excluí-la do chamado "indulto infantil", destinado a menores há anos a residir nos Países Baixos e para quem este país é o único lar que conhecem.
Mikael nasceu e cresceu em território neerlandês, frequenta uma escola secundária neerlandesa e nunca esteve na Arménia, país que a mãe deixou em 2010, altura em que pediu asilo nos Países Baixos.
O pedido de residência foi rejeitado várias vezes, mas ela decidiu permanecer no país enquanto continuava a recorrer da decisão.
A nova decisão, agora conhecida, surgiu "devido à relação com o pai de Mikael", explicaram os advogados.
Os pais do rapaz estão separados, e o pai tinha uma autorização de residência neerlandesa, o que permitiu reabrir o caso e reavaliar a situação do menor.
"Mikael e a mãe estão felizes e aliviados por finalmente poderem seguir em frente com as suas vidas e gratos pelo apoio que tantas pessoas lhes deram", afirmaram os advogados à agência de notícias holandesa ANP.
Em abril deste ano, o IND continuava a insistir que o rapaz devia regressar à Arménia com a mãe, e a então ministra do Asilo e Migração, Marjolein Faber, de extrema-direita, reiterou que não podia intervir e precisava de "garantir o cumprimento das leis e regulamentos" do acordo que permitiu a formação de um Governo de coligação com o partido de extrema-direita de Geert Wilders no verão de 2024.
A presidente da Câmara de Amesterdão, Femke Halsema, chegou a pedir publicamente a reavaliação do caso, argumentando então: "Mikael é um menino de 11 anos de Amesterdão, que pertence a um grupo de amigos na escola. O desejo de ter menos imigrantes nunca pode ser tão forte ao ponto de sacrificar uma criança que não conhece outro país além deste".
O apelo não surtiu efeito naquela altura, e o menor continuou sob a ameaça de expulsão, mas agora a autarca celebrou a decisão nas redes sociais.
"Que bom que tenha chegado ao fim esta longa etapa de medo e incerteza e que Mikael possa concentrar-se no futuro. E finalmente ser um adolescente neerlandês normal", escreveu Halsema.
O caso de Mikael desencadeou uma grande mobilização social.
Uma petição a solicitar que lhe fosse concedida residência recolheu cerca de 50 mil assinaturas e questionou a severidade da política de imigração do atual Governo, que está em funções a título provisório, desde que, em junho, Wilders demitiu todos os ministros precisamente por não ter conseguido convencer os parceiros de coligação a endurecer mais ainda a política de asilo.
Com esta decisão do IND, a família poderá regularizar a situação e permanecer nos Países Baixos, pondo fim a mais de uma década de incerteza, recursos judiciais e ameaças de deportação.
