Dez mulheres morreram e 14 ficaram hospitalizadas, depois de serem submetidas a operações mal executadas de esterilização em massa, num "campo de planeamento familiar" no centro da Índia, no passado sábado.
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Cerca de 83 mulheres foram submetidas à cirurgia e dezenas começaram a apresentar sintomas de choque tóxico horas após a intervenção, realizada num "campo de planeamento familiar", no estado de Chhattisgarh. Estes campos são parte de uma medida do governo que pretende controlar o crescimento exponencial da população indiana.
Segundo a Reuters, cada mulher voluntária recebeu um incentivo de 1,400 rupias, cerca de 20 euros, e os profissionais de saúde do centro receberam 200 rupias, cerca de 2,60 euros, por cada mulher que trouxeram para o campo.
A esterilização é o método mais divulgado de planeamento familiar na Índia e vários estados organizam programas daquele tipo, criticados por organizações não-governamentais, que consideram que as mulheres não são corretamente informadas dos riscos e que os procedimentos não são feitos nas melhores condições.
Num artigo do New York Times podem ler-se as declarações de Amar Singh Thakur, diretor-adjunto dos serviços de saúde do distrito de Bilaspur, que relata que um único cirurgião realizou a operação nas 83 mulheres, num período de apenas seis horas. "Isto significa que não pode ter perdido mais do que alguns minutos com cada paciente", transcreve o jornal americano.
As mulheres foram submetidas a uma esterilização laparoscópica, um processo pouco invasivo que visa bloquear as trompas de Falópio e é realizado geralmente sob anestesia geral.
As causas das mortes ainda não estão esclarecidas, mas os serviços de saúde locais consideram vários cenários, nomeadamente a possibilidade do equipamento cirúrgico estar infetado.
O chefe do executivo de Chhattisgarh, Raman Singh, declarou, à agência Reuters, que se tratava de um "grave caso de negligência" e ordenou a suspensão de quatro responsáveis do setor da saúde, assim como a realização de uma investigação para apurar responsabilidades.
A família de cada uma das mulheres mortas vai receber uma indemnização de 400.000 rupias, cerca de 5.200 euros.
As mortes provocadas por esterilizações mal executadas não são uma novidade na Índia. Entre 2013 e 2014 foram realizadas mais de quatro milhões de cirurgias, de acordo com dados do governo.
O programa de planeamento familiar na Índia é essencialmente centrado nas mulheres e cerca de um terço da população que a ele recorre (54%) opta pela esterilização da mulher, segundo dados oficiais de 2008.
Com cerca de 1,25 mil milhões de habitantes, a Índia poderá ser o país mais populoso do mundo daqui a 20 anos.