Durante o dia de quarta-feira, perto de 30 pessoas concentraram-se junto à costa de Mati, na Grécia, na esperança de dar uma ajuda a quem continua a não saber dos entes queridos.
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Karafotia Joanna vai remexendo os objetos que se amontoam junto à costa, na areia negra como breu, com uma espécie de ancinho. Volta e meia, encontra algo, analisa e, se vir que pode ajudar, põe de lado. Depois, carrega tudo para um pátio um pouco mais à frente, onde os objetos vão sendo colocados num saco do lixo gigante.
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Foi lá que, ao longo do dia de ontem, perto de 30 voluntários foram colocando tudo o que encontravam - desde ursinhos de peluche chamuscados a dezenas de peças de roupa, semi-destruídas pelas chamas.
A ideia é simples: que tudo chegue à polícia, para que as forças de segurança possam acelerar o processo de identificação dos muitos desaparecidos, mais de 100, estima-se, resultantes dos fortes incêndios que assolaram a Grécia e que já provocaram, pelo menos, 81 mortos.
"Tento separar tudo que se consiga encontrar. Tudo pode ajudar. Já encontrei telefone, roupa, uma carteira, sapatos, um relógio. Tudo pode ajudar", explica-nos, com a cara já tingida de negro, como a areia.
Tudo objetos que, pela lógica, pertencem às várias pessoas que terão morrido afogadas no mar de Mati, quando tentavam fugir do fogo. Só num barco morreram dez turistas que se afogaram ao tentar escapar às chamas.
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Karafotia até tem uma motivação especial para ajudar. Mesmo que não seja uma motivação feliz. "Os filhos gémeos de uma amiga estão desaparecidos. E o marido dela. Gostava de encontrar algo que desse pistas", diz, sem esperança.
"Pelo tempo que já passou, tenho a certeza que lhes aconteceu alguma coisa". Os olhos lacrimejam-se de repente. Mas mesmo que não encontre nada que possa ser associado aos pequenos gémeos, promete não desistir. "Pelo menos estou a ajudar", desabafa.