O independentismo que hoje alinha em mais uma Diada Nacional da Catalunha é completamente diferente do das edições anteriores.
Corpo do artigo
Precisa de mostrar ao resto do Mundo uma firmeza e uma união, mas estas não se avistam no seio de um Parlamento focado em resolver os seus próprios conflitos internos. E as medidas sanitárias restritas prometem marcar este dia especial para o povo catalão: não poderá seguir a tradição e encher as ruas da região com esteladas, cartazes a favor dos presos políticos e cânticos pró-independência.
A Assembleia Nacional da Catalunha (ANC) promoveu uma Diada híbrida, que mistura mobilizações presenciais e online, permitindo que 48 mil catalães se possam manifestar em 107 pontos diferentes espalhados por 82 concelhos da Catalunha. Para poder participar, as pessoas tiveram de se inscrever e terão de guardar a distância de segurança, bem como usar máscara.
A festa mais difícil
"A Catalunha vai ensinar ao resto do Mundo que existem pessoas dispostas a fazer a manifestação mais difícil da história deste país", analisa ao JN Adrià Alsina, diretor de comunicação da ANC, organizadora da Diada com o objetivo de sempre: proteger o direito à liberdade de expressão, ainda que sem a presença de mais um milhão de pessoas nas ruas, como aconteceu nas edições anteriores.
Sob o lema "O dever de construir um futuro melhor. O direito a ser independentes", a ANC tentará demonstrar que a independência tem uma componente social e é, por isso, cada vez mais necessária. "A independência é a ferramenta mais importante para poder construir um futuro melhor e, portanto, defender a economia e a saúde dos cidadãos da Catalunha num momento tão complicado", justifica Alsina.
As manifestações foram convocadas para a frente dos edifícios da administração espanhola na Catalunha, para sinalizar Madrid como o verdadeiro vilão. "Queremos denunciar a discriminação a que a Catalunha é sujeita pelo estado espanhol, que foi parte do problema durante a pandemia e continuará a ser um obstáculo para ultrapassar a crise atual quando deveria ser uma solução", explicou o porta-voz.
Além das concentrações na rua, ANC criou o portal "Rede Independência", para cidadãos dispostos a ser solidários com entidades essenciais que estão a trabalhar por um futuro diferente na Catalunha.
Um dia estranho sem apoio político
Pela primeira vez desde 2012, nenhum membro do Governo catalão assistirá à manifestação central na Praça Letamendi, em Barcelona, devido à contenção da pandemia. A Diada deixa, assim, de servir como ponto de união para os partidos independentistas incapazes de deixar de lado as suas diferenças para lutar por uma causa comum.
Juntos por Catalunha (JxCat) e Esquerda Republicana de Catalunha são sócios no Parlamento, mas os seus ideais estão cada vez mais afastados. Os republicanos lutam por alcançar a independência através de uma mesa de negociação que só se reuniu uma vez, enquanto os JxCat - a lidar com dissidências - apostam numa "confrontação inteligente".
O regresso à mesa de diálogo com Madrid parece cada vez mais próximo depois de uma conversa entre o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o presidente catalão, Quim Torra, em que se decidiu a agenda da próxima reunião em Barcelona, sem data marcada. Torra, que espera a inabilitação e quer convocar eleições, voltou a exigir o direito à autodeterminação e a amnistia dos presos políticos.
Pormenores
O que é a Diada? - A "Diada Nacional de Catalunya" ou "Diada de l"Onze de Setembre" é a festa nacional da região que assinala a resistência catalã no Cerco de Barcelona durante a Guerra da Sucessão Espanhola, findo a 11 de setembro de 1714.
Os símbolos catalães - O estatuto de autonomia de 2006 (aprovado em referendo por 73,9% dos votos) estabelece como símbolos nacionais a bandeira ("estelada", barras vermelhas em fundo amarelo), o hino ("Os segadores") e o 11 de setembro como Dia Nacional.
A polémica revisão - A pedido do Partido Popular, o Tribunal Constitucional de Espanha reviu o Estatuto reescrevendo 14 artigos e reinterpretando 27. Considerou o termo "nação" ilegal e reviu determinações sobre língua, justiça e política fiscal. A revisão deu força ao independentismo.