Dinamarca pede desculpa por contraceção forçada que resultou em infertilidade na Gronelândia
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, chegou esta quarta-feira a Nuuk, capital da Gronelândia, para pedir desculpa às mulheres que foram vítimas da campanha dinamarquesa de contraceção forçada na ilha durante mais de três décadas.
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Este é "um momento marcante" sobre "uma página negra na história partilhada" da Dinamarca e da Gronelândia, afirmou Mette Frederiksen nas redes sociais, após aterrar no território.
"Este será um momento muito importante para estas mulheres, claro, mas também para toda a sociedade", disse à agência de notícias AFP a deputada gronelandesa Aaja Chemnitz, que representa a Gronelândia no Parlamento.
"Este é um segundo passo no processo de reconciliação, após o anúncio do pedido de desculpas", declarou Chemnitz.
A campanha de contraceção, que começou no final da década de 1960 e se prolongou até 1992, tinha como objetivo reduzir a taxa de natalidade na Gronelândia.
No final de 1970, pelo menos 4070 mulheres, ou uma em cada duas mulheres gronelandesas em idade fértil, tinham recebido um dispositivo contracetivo DIU, de acordo com um investigação apresentada no início de setembro. O procedimento era realizado, na sua maioria, sem consentimento prévio, mesmo para menores.
A inserção do contracetivo causou múltiplas complicações a muitas mulheres, muitas destas se tornaram inférteis.
No final de agosto, a primeira-ministra dinamarquesa já havia pedido desculpas às vítimas, atendendo ao pedido que estas mulheres faziam há vários anos.
Na segunda-feira, anunciou a criação de um "fundo de reconciliação" para compensar estas mulheres, assim como em outros casos, nomeadamente de gronelandesas discriminadas pela sua origem.
"Esta é uma notícia muito boa, porque os meus clientes não se contentam com um simples pedido de desculpas", disse à AFP Mads Pramming, advogado de cerca de 150 vítimas que estão a processar o Estado dinamarquês por violações dos direitos humanos e pretendem indemnizações.
"O momento é oportuno e [Mette Frederiksen] não teria sido bem recebida se não tivesse oferecido algo antecipadamente", acrescentou Pramming.
Entre Nuuk e Copenhaga, existem muitos obstáculos, incluindo as adoções forçadas e a colocação forçada de crianças gronelandesas na Dinamarca.
O Governo dinamarquês procura aliviar as tensões quando a Gronelândia está a ser cobiçada pelo Governo dos Estados Unidos.
Mette Frederiksen rompeu com a tradição dos seus antecessores, que afirmavam que a Dinamarca não tinha nada do que pedir desculpa.
"No passado, os primeiros-ministros dinamarqueses sempre foram extremamente relutantes em reconhecer as injustiças cometidas na Gronelândia", recordou a historiadora Astrid Andersen, investigadora do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais.
Dinamarca e Gronelândia concordaram lançar uma investigação independente sobre as práticas contracetivas, cujas conclusões foram recentemente divulgadas.
Uma outra investigação, que analisa as implicações legais desta campanha, está em curso. O seu relatório, que examinará se a Dinamarca cometeu genocídio, deverá ser publicado na primavera de 2026.